Outras expressões do mesmo teor se encontram no documento conciliar: “É de suma importância a Sagrada Escritura nas celebrações litúrgicas”. Por isso, “é preciso fomentar aquele amor suave e forte pela sagrada Escritura testemunhado pela venerável tradição dos ritos” (SC, n. 24).
O documento recorda que “na liturgia, Deus fala ao seu povo e Cristo, ainda hoje, anuncia seu Evangelho” (SC, n. 33). Logo, uma consequência que não tem só uma finalidade litúrgica, e que recupera séculos de história, colocando a Palavra, na liturgia, em seu devido lugar, na fidelidade à antiga praxe eclesial: “nas celebrações litúrgicas, sejam feitas leituras das Sagradas Escrituras com mais abundância, maior variedade e mais adaptações às ocasiões” (SC, n. 61,1).
Essas essenciais orientações dadas pelo Concílio encontraram bela e rica resposta nos anos sucessivos quando, depois de ampla discussão, a Igreja adotou a leitura da Palavra com um ciclo trienal, aos domingos e festas, e bienal – da primeira leitura – nos dias da semana. Passamos, deste modo, de três por cento do Antigo Testamento proclamado antes da Reforma, a 24 por cento do Lecionário atual e, do Novo Testamento, agora escutamos 70 por cento, antes era vinte e um por cento.
Sobretudo, tomamos consciência de que a celebração litúrgica é “o âmbito privilegiado onde Deus nos fala no momento presente da nossa vida”, como escreveu o Papa Bento XVI, na maravilhosa exortação apostólica Verbum Domini (2010). Ele recordava que “a celebração litúrgica se torna uma contínua, plena e eficaz proclamação da Palavra de Deus” (VD, n. 52, citando a Instrução Geral das Leituras da Missa).
Papa Bento vai ainda mais para lá e abriu um amplo horizonte à proclamação da Palavra de Deus na liturgia, quando observou que “para a compreensão da Palavra de Deus é necessário entender e viver o valor essencial da ação litúrgica”... O referencial para uma compreensão mais plena da Sagrada Escritura é “a liturgia, onde a Palavra de Deus é celebrada como palavra atual e viva”. Para concluir, o Papa exortava os pastores e todos os agentes de pastorais “a fazer com que todos os fiéis sejam educados para saborear o sentido profundo da Palavra de Deus que está distribuída ao longo do ano na liturgia”.
Estas poucas palavras são suficientes para compreender como a nossa Igreja se coloca, hoje, diante da Palavra. O outro grande documento conciliar sobre a Palavra: Dei Verbum, em abertura, afirmava que o Concílio se propôs “expor a genuína doutrina sobre a revelação divina e a sua transmissão, para que o mundo todo, ao ouvir o anúncio da salvação, creia, crendo espere e esperando ame” (DV, n. 1).
É meu desejo que, neste mês da Bíblia, todo discípulo do Senhor Jesus, com sua comunidade eclesial possa dar passos na compreensão, acolhida e vivência desses votos dos documentos da nossa Igreja.
Dom Armando Bucciol
bispo de Livramento de Nossa Senhora-BA
Membro da Comissão Bíblico-Catequética nacional
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