3 de abril de 2020

RAMOS: a Vida abre passagem

Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia” (Mt 21,11)
A vida de Jesus é uma grande subida a Jerusalém; e nesta subida, segundo os relatos evangélicos, Ele desconcertou a todos. Evidentemente, desconcertou as pessoas mais religiosas e observantes da religião judaica: fariseus, escribas, sacerdotes, anciãos... Não só Jesus foi a pessoa mais desconcertante de toda a história, mas nele aconteceu algo também desconcertante. Ele desencadeou na história da humanidade um “modo de viver” que quebrou toda estrutura petrificada, sobretudo religiosa, constituindo um “movimento” ousado, que colocava o ser humano no centro.
Um movimento alternativo às instituições romanas e à organização sacerdotal do judaísmo; um movimento “marginal” que dava prioridade aos pobres, aos deslocados, aos doentes e excluídos, aos perdedores... e que não tinha nada a ver com uma organização fundada no poder, no prestígio, na riqueza...
Este movimento, desencadeado na Galileia, chega agora às portas da “cidade santa”, Jerusalém.
Aquele homem que movia multidões por todo o país, por sua pregação e milagres, não é um revolucionário violento. E, no entanto, nem por isso deixa de ser inquietante, transgressor e perigoso.
Jesus foi assim e assim Ele viveu; todo o resto lhe sobrava (leis, culto, templo, estrutura religiosa...). 
Em nome de um Deus que a todos acolhe e chama, que é Pai-Mãe de todos, Jesus transgrediu a estrutura que sustentava uma sociedade fechada, fundada na lei do mais forte e na violência de quem detém o poder.
Jesus foi um transgressor porque rompeu as fronteiras que foram traçadas pelos poderosos, abrindo um caminho de humanidade a partir de baixo, do lado dos excluídos... Ele não veio para sancionar uma ordem existente, deixando cada um com sua exclusão, senão para oferecer a todos um caminho de humanidade.
Um transgressor consequente, a serviço da vida e dos últimos.
Como transgressor subiu a Jerusalém; e por isso sua morte será tramada por aqueles que se sentiam ameaçados e sua vida acabará destroçada pelas mãos dos profissionais da morte.
Em Jesus acontece algo totalmente novo; Ele desencadeou um “movimento de vida”; Ele trouxe uma nova maneira de viver e de comunicar vida que não cabia nos esquemas daqueles que estavam petrificados em suas posições e visões.
A novidade de Jesus consistia, justamente, em afirmar que existe um caminho para encontrar a Deus que não passa pelo Templo, pela pompa dos ritos e pela observância estrita das leis. Desse modo, reconhece-se a vida como lugar privilegiado da Sua Presença.
Quem entra em comunhão de vida com Ele, conhece uma vida diferente, de qualidade nova, expansiva...
Isso implica: acolher outras vidas na nossa própria vida, abrir espaços para que as histórias dos excluídos e diferentes encontrem morada nas nossas entranhas, na nossa memória e no nosso coração; descer de nossa montaria, como bons samaritanos, para nos aproximar e cuidar das vidas feridas... 
A entrada de Jesus em Jerusalém é um chamado à vida. Ele é a Vida que abre caminho por aqueles espaços urbanos, carregados de poder e morte. Vida despojada de vaidade e prestígio, conduzida por um jumentinho.
Jesus se apresenta sem coroa e sem ornamentos; não tem outra coisa a compartilhar a não ser o amor e o serviço; não vem para governar e impor sua vontade, mas fazer-se irmão de todos. Jesus não busca grandes aclamações, nem aplausos, mas tão somente busca o sentido e a razão de viver.
“Quando Jesus entrou em Jerusalém, a cidade inteira ficou agitada” (v.10).
“Agitar”: este verbo não traduz bem a realidade: na verdade, a cidade ficou abalada, como se fosse um tremor de terra. Quando Jesus entrou, como Rei messiânico em Jerusalém, a cidade tremeu, como aconteceu com o anúncio do seu nascimento (Mt 2,3) e como será na hora da sua morte (Mt 27,51).
Jesus, com sua presença surpreendente, sacudiu a cidade de sua “normalidade doentia”, de sua letargia, de seu ritualismo comandado por aqueles que eram os poderosos traficantes da dor e da morte. 
Jesus é a Vida verdadeira, a Vida que deseja despertar vida nos outros, para romper com tudo aquilo que a limita. Por isso, o relato deste Domingo de Ramos quer expressar o encontro de uma cidade com Aquele que é Vida e que é fonte de vida em crescente amplitude. Jesus, o “biófilo”, também sonhava com uma Jerusalém acolhedora, espaço da convivência e da paz.
Quando Jesus quer entrar no coração humano, não busca fazer espetáculos. Busca a simplicidade.
O povo lançava ao solo seus mantos. O que deveríamos pôr como tapete para que Jesus venha até nós caminhando sobre ele? Em vez de mantos, talvez pudéssemos cobrir o solo com tudo aquilo que nos sobra
e outros necessitam; também deveríamos forrar o chão com nossas debilidades, com nossas resistências, com nossas carências... Porque também nossas pobrezas podem cobrir de festa o caminho. O caminho de Jesus que vem a nós é também caminho de libertação e cura. 
A liturgia deste dia também nos recorda que o “espaço urbano” é, certamente, área de missão da Igreja e dos cristãos. Sua principal preocupação deve ser a defesa integral da vida e de seu sentido último, o mundo dos valores éticos que iluminam o homem e a mulher na sua ação no mundo.
Como seguidores(as) de Jesus, é preciso voltar a pôr o coração de Deus no coração da grande cidade, para renová-la a partir de dentro.
Faz-se necessário uma opção por adentrar e viver imersos, com todas as consequências, no interior dos grandes centros urbanos, em seu coração, para aí descobrir o verdadeiro coração de Deus que pulsa ao ritmo dos despossuídos, dos excluídos, dos sofredores  e dos sedentos por uma vida mais digna.
No meio das cidades encontramos homens e mulheres “especiais” que carregam alegremente, e muitas vezes com um profundo sentido crítico e político, a dor da humanidade, e se convertem assim em fator essencial de esperança para um futuro humanizador; são pessoas que prestam sua vida, sua acolhida e seus cuidados aos doentes, aos moradores de rua, aos deficientes, aos anciãos e solitários...
Neste tempo de pandemia do “coronavírus”, devemos expressar nossa especial gratidão aos “profissionais da saúde” que arriscam suas vidas para que outros possam fazer a “travessia” sem piores consequências.
Somos convidados a viver a mística dos profetas nas grandes cidades. O místico não se cansa de ser sinal de esperança e testemunha do Deus da Vida no meio das contradições da cidade. Na cidade somos chamados a abrir nossas casas e estarmos sempre prontos para receber os desafios que vem da rua.
A ação profética é sempre a busca permanente do outro, além das paredes da própria casa. 
Texto bíblico:  Mt 21,1-11
Na oração: preparar-se para fazer o “caminho da fidelidade” de Jesus, vivendo intensamente os mistérios da Semana Santa, através das celebrações, do silêncio solidário e do compromisso com aqueles que, na Jerusalém de hoje,  prolongam a Paixão de Jesus.
Pe. Adroaldo Palaoro sj

As sete palavras de Jesus na cruz

São sete expressões ditas por Jesus na Cruz e recolhidas pelos evangelistas; elas condensam a vida do Crucificado. Nestas expressões  revela-se a identidade de  Jesus: quem Ele é e sua missão.
Vamos contemplar o significado das “palavras pronunciadas por Jesus na Cruz”, deixando-nos impactar e iluminar por elas. São palavras densas, carregadas de vida; palavras “excêntricas”, onde Jesus sai de si e se dirige aos outros.
1. PERDÂO. “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”(Lc 23,34)
Jesus, na sua vida pública, sempre revelou o perdão do Pai; no encontro com os pecadores deixou transparecer a misericórdia reconstrutora de Deus. O perdão foi a marca de sua vida e deve ser também a marca dos seus seguidores.
É difícil perdoar: a dor, o orgulho, a própria dignidade, quando é violentada, grita pedindo “justiça”, buscando “reparação”, exigindo “vingança”... Mas, perdão?
Surpreende-nos que Jesus na Cruz seja capaz de continuar vendo humanidade em seus verdugos; Ele é capaz de continuar crendo que há esperança para aqueles que cravam seus semelhantes na Cruz. Porque, esta palavra de perdão, dita a partir do madeiro, é sobretudo uma declaração eterna: o ser humano, todo homem e toda mulher, conserva sua capacidade de amar nas circunstâncias mais adversas. E todo ser humano, até aquele que é capaz das ações mais atrozes, continua tendo um germe de humanidade em seu interior e que permite que haja esperança para ele.  Perdoar é atrever-se a ver o que há de verdadeiro, de beleza em cada um. O perdão é capaz de ver dignidade e faísca de humanidade escondida no coração do verdugo. O perdão abre futuro, destrava a vida e não se deixa determinar pelos erros do passado; ele quebra distâncias, nos faz descer em direção à fragilidade do outro, ao mesmo tempo que revela nossa fragilidade. É enquanto pecadores que somos chamados a perdoar e não enquanto justos. Por isso, no perdão é onde mais nos assemelhamos a Deus, pois só Ele podia inventar o perdão.
Deus também continua me perdoando hoje, pelas atitudes pecaminosas em minha vida que destroem, rompem, ferem os outros e o meu mundo.
- Deixar ressoar esta expressão de Jesus: Fiz experiência de perdão? Sou capaz de perdoar e acolher o perdão?
2. CONTIGO. “Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43)
Jesus sempre viveu “em más companhias” e agora morre entre dois ladrões. Mais uma vez, não assume o papel de juiz sobre dos outros mas oferece uma nova chance de salvação. O moribundo que dá vida: presença solidária, que, mesmo em meio ao pior sofrimento, oferece companhia a outros sofredores. Um dos ladrões, impactado pela serenidade e testemunho de Jesus “rouba o paraíso”. 
Jesus revela uma promessa que muitas pessoas precisam ouvir hoje, sobretudo aqueles que carregam cruzes injustas e pesadas, que vivem realidades atravessadas pela dor, pela solidão, dúvida, incompreensão ou pranto... Como soarão estas palavras no interior de cada um de nós: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Hoje: porque as mudanças, a nova criação, a humanidade reconciliada, não tem que esperar mais; hoje, agora, já...; talvez esse “hoje” não chega é por causa de tantas pessoas que não decidem, não optam, esperam sentadas...
Comigo: promessa de viver em sua companhia e desperta ecos de uma plenitude que não conseguimos entender.
No paraiso: que não é um mítico Eden, mas lugar de plenitude de vida, onde não haverá mais pranto, nem dor; realidade já presente onde habitará a justiça e a paz.
- Deixar ressoar esta expressão de Jesus para construir, hoje, o Paraíso em nosso cotidiano.
- Como viver hoje no paraíso? Neste momento, a quem podemos despertar a esperança?
3. APOIO. “Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo 19,26)
Maria, mulher do “sim”; “sim” que se prolonga até à Cruz, onde, de pé, revela sua presença materna e consoladora junto a seu Filho Jesus. A presença de Maria na vida de Jesus não é acidental: foi aquela que mais amou, conheceu e seguiu Jesus. Ela agora é nossa referência fiel no seguimento do seu Filho. 
Despojado de tudo, Jesus tem um tesouro a nos dar: entrega sua própria mãe para que ela seja presença cuidadora e de ternura junto aos seus filhos sofredores. Jesus não nos deixa órfãos; sempre precisamos dos cuidados e do consolo de uma mãe; alguém para nos acompanhar nas horas mais obscuras e difíceis; alguém que nos sustenta nos momentos trágicos; alguém que compartilha nossas perdas... e que também está presente nas horas boas, que chegarão. É como se Jesus nos dissesse: “Para viver o meu seguimento, inspire-se nela, tenha-a como referência”. Não estamos sozinhos: muitas presenças marianas em nossas vidas – amigos, pais, filhos... São tantas pessoas junto ao pé da cruz, inumeráveis homens e mulheres de Igreja que foram e são companheiros de caminho, de esforço, de apoio, de buscas e de amor. João, também de pé junto à Cruz, representa todo seguidor fiel de Jesus, mesmo nos momentos de crise.
- Deixar ressoar estas palavras de Jesus: ser presença materna e cuidadora junto aos sofredores; prolongar o modo solidário de Maria junto aos crucificados.
4. SOLIDÃO. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46)
O grito de Jesus na Cruz condensa o grito da humanidade sofredora; é o próprio Deus que grita seu abandono.
Esse grito de Jesus revela uma Presença no próprio abandono, embora, de imediato não se sinta esta presença. Grito que não fica no vazio, mas aponta para a Vida. 
Todos perguntamos: “Onde está Deus no sofrimento, na violência, na morte...?” E Deus responde, perguntando: “Onde está você no meu sofrimento, na violência que sofro, na morte... de meus filhos/as?”
O sofrimento da humanidade é o sofrimento de Deus; Deus não é insensível e distante da dor dos seus filhos.
Quem não passa por momentos de noite escura, de insegurança, de absoluta incerteza...?
Quem não viveu experiências de abandono, de falta de sentido na vida, de solidão, de rejeição...?
Quem não tem momentos de ceticismo, de amargura, de medo, de dúvida...?
Quem não se pergunta, talvez por um instante fugaz mas pungente, onde está Deus agora? 
Nesses momentos temos a impressão de que todas as nossas opções foram equivocadas, que cada decisão nos levou por um caminho sem saída... Nesses tempos nos remorde o fracasso, a miséria, própria e alheia. É do meio desta situação que brota um grito desesperador, como o de Jesus... No entanto, nos atrevemos a seguir adiante, com nossos projetos, compromissos e esforços em seu nome. O desafio está em não ceder, em não crer que tudo tem sido uma mentira. O desafio é não abandonar, não render-se, não capitular nesses momentos. Entende-se, assim, o grande “grito” que brotou das profundezas da dor de Jesus na Cruz e que continua ecoando como clamor angustiado. Não são poucos os gritos dos mais pobres e excluídos. É um clamor forte pela intensidade de suas carências. Um clamor surdo porque não consegue impactar de modo a conseguir respostas prontas e imediatas aos graves problemas que os afligem.
O grito dos sofredores é sempre forte. Forte pela violência das necessidades e das urgências para a garantia de uma vida mais digna. Em Cristo se condensam todos os gritos da humanidade sofredora. Sua força, no entanto, não consegue incomodar a todos os que precisam ser interpelados pela exigência  deste clamor. Um grito, pois, é a expressão do mais forte sentimento que está no centro do próprio coração; é, também, a expressão mais concreta do que aflige o coração. 
Um grito é, na verdade, um convite a um compromisso solidário. O grande grito de Jesus é a certeza de tudo o que sustenta o seu coração; ao ecoar junto aos crucificados, provocará grandes novidades. Um grito que não fica no vazio mas aponta para a vida.
- Deixar ressoar este grito de Jesus: quais são os gritos surdos que brotam da realidade hoje.
5. SEDE. “Tenho sede...” (Jn 19,28)
Jesus sempre foi um homem “sedento”: fazer a vontade do Pai, realizar o Reino, compromisso com a vida, presença solidária junto aos sofredores, fazer conhecido a Deus como Pai/Mãe...
Agora grita sua derradeira sede: um mundo sem dor, sem exclusão, sem violência
Grita o homem com a garganta ressequida: sede na garganta e sede no coração. Sede expansiva, sede que descentra. 
Grito que se multiplica em milhares de gargantas espalhadas pelo mundo: quero “justiça”, clamam os injustiçados deste mundo; quero “pão”, pede a criança com a barriga inchada de ar e de fome; quero “paz”, exclama a testemunha de atrocidades sem fim; quero “amor”, pede o jovem solitário por ser estranho; quero “moradia”, sonha o morador de rua que dorme em um banco da praça; quero “trabalho”, suspira uma jovem que se sente fracassar; quero liberdade escreve o presidiário em seus poemas; quero saúde, recita o enfermo em seu leito... Vozes de compaixão, vozes de pranto, vozes que refletem as dores do mundo.
Há alaridos, e também sussurros, todos carregados de sensibilidade dolorida.
O grito de Jesus na Cruz recolhe todos esses brados da humanidade quebrada. E não há explicação; não há sentido; não há justiça. Só um grito a mais. 
A sede de Jesus desperta em nós outras “sedes”: de quê tenho sede? Sede de sonhos, de mundo novo...
Sede mobilizadora que ativa as melhores energias dentro de nós, que desperta nossa criatividade...
Sede que purifica nossa capacidade de escutar os gritos, de perto e de longe. O quê fazer?
“Quem tem sede venha a mim e beba”. Quem não tem sede não busca, não cria.
- Deixar ressoar essa súplica de Jesus: A quem precisamos nos atrever a escutar?
6. COMPROMISSO. “Tudo está consumado” (Jo 19,30)
Parece contradição alguém dependurado na Cruz afirmar que tudo está consumado; tem-se a impressão de fracasso total. Mas na Cruz Jesus leva até às últimas consequências sua Encarnação: mergulha e se faz solidário com todos os crucificados da história. “Desce” até às profundezas do sofrimento humano e ali revela a presença do Deus compassivo.
No alto da Cruz, Jesus tem consciência que não viveu em vão; sua presença fez a diferença; viveu para os outros. Jesus morre com as mãos cheias de vida; gastou a vida a serviço da vida; deixou pegadas nos corações de quem encontrou pela vida. “Jesus morreu de tanto viver”. Morreu de bondade, de compaixão, de justiça.
Jesus teve um “caso de amor” com a vida; viveu intensamente.
Uma vida consumada faz fecunda a morte. Uma história consumada de Amor. Vida consumada quando se consome no serviço aos outros. Jesus desencadeou um movimento de vida.
- Deixar ressoar esta afirmação de Jesus: quão plenificante é poder dizer a cada dia: tudo está consumado. É poder dizer como Pablo Neruda: “Confesso que vivi”.
7. SENTIDO. “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc 23,46)
Só quem viveu intensamente uma vida expansiva pode acolher a própria morte com paz, confiança, serenidade e abandono nos braços do Pai. Jesus morre como tinha vivido: ancorado na confiança do Pai.
Jesus, que sempre prolongou as mãos do Pai, agora entrega-se confiadamente nos braços do mesmo Pai.
Jesus sempre viveu em profunda sintonia com o Pai; agora Ele dá um “salto vital” nos braços do Pai.
Ao “entregar seu espírito” Jesus é “aspirado” para dentro de Deus.
A morte nos inspira medo; mas na morte, somos todos iguais, sozinho diante de Deus.
A morte é a última ponte que nos conduz ao Pai. Seremos abraçados do outro lado da ponte. Nosso destino é o coração de Deus.
Não só na hora da morte, mas a cada dia somos chamados a “entregar o espírito”; num mundo em que todos buscam seguranças, que em tudo querem ter “salva-vidas”, num mundo que nos convida a ter as costas cobertas... queremos arriscar, apostar pelo Reino; queremos nos sentir confiados, atravessar tormentas ou espaços serenos, sentindo-nos protegidos pelas mãos do Pai. Mãos que curam, acariciam, sustentam...
- Deixar ressoar em nosso interior as palavras de entrega de Jesus: vivemos amparados pelos mãos providentes e cuidadosas do Pai; sentir-nos movidos a prolongar as mãos do Pai.
Estas palavras, proferidas por Jesus no alto da Cruz, causam um profundo impacto em nosso coração.
Tal impacto nos faz ter os olhos fixos no Crucificado; a partir do Crucificado ativar um olhar comprometido com os crucificados da história. Só podemos crer no Crucificado se estivermos dispostos a tirar da Cruz aqueles que estão dependurados nela (Jon Sobrino).
Após a oração universal faremos a chamada “adoração da Cruz”; não se pode contemplar a Cruz isolada daquilo que nela aconteceu. A Cruz nela mesma não tem sentido.
O que vemos ao contemplar o Crucificado?
A Cruz é expressão da máxima compaixão e comunhão, com Jesus e com os sofredores. Ela aponta para Aquele que foi fiel ao Pai e ao Reino. Por isso, a Cruz não é um “peso morto”.
A partir da Cruz de Jesus, iluminamos e damos sentido às nossas cruzes. 
Pe. Adroaldo Palaoro sj