Contar ou reescrever o que Deus escreveu na minha vida é uma tarefa
interessante, é uma maneira de reavivar a minha fé em Deus criador, Deus
edificador, Deus vida.
Nasci numa família muito católica e como dizem “católica praticante”.
Nossa vida é uma vida simples, humilde, moradores de zona rural, ou melhor,
moradores da roça.
Meu pai Sebastião Ramos é homem
pouco instruído, não estudou, somente trabalhou muito nas plantações de milho,
arroz e feijão para sustentar os 8 filhos(Socorro, Alair, Afonso, Oswaldo,
Ermelindo, Elizabeth, Eustáquio e Roberto. Hoje somos 7 irmãos, um faleceu
(Alair) com poucos anos de vida, se sentiu mal um dia a tarde, depois de acompanhar
meu pai na roça buscando milho; o que ele gostava de fazer eu também gostava,
acompanhar o cavalo vindo da roça carregado para na volta entrar no balaio para
buscar mais milho.
Minha mãe é uma mulher forte, Terezinha Ligório, líder da nossa
comunidade Nossa Senhora de Nazaré, catequista, ministra da Eucaristia, andava
longe levando o Corpo de Cristo para doentes, com uma vela ou uma lamparina,
apagando... acendendo... e assim ela ia. Reconhecida em 2011 pela câmara
municipal de Joanésia com a medalha de honra ao mérito pelos serviços prestados
a comunidade.
Morávamos numa fazenda, uma casa grande com muito quartos. Nossa
comunidade nasceu lá. As celebrações eram feitas na sala da fazenda e a
catequese no quarto maior da casa. Aos domingos eu apanhava os bancos da
fazenda e acomodava-os na sala tentando formar uma pequena nave para as
celebrações. Inesquecível o dia em que Dom Felipe celebrou a Crisma da minha
irmã na varanda da fazenda, eu ainda pequeno, segurei um gravador de fita K7 ao
lado dele o tempo todo gravando a missa, tenho essa fitinha até hoje.
Na minha família tivemos 10 catequistas. Fui catequizado por uma
prima, Perpétua, debaixo de um pé de manga. Ela sabia que o melhor método era a
catequese narrativa, de um jeito simples ensinava-nos as maravilhas de Jesus. Lembro-me
do dia em que encenamos o evangelho do bom samaritano, a história se passou no
terreiro da casa dela, debaixo do pé de
manga fui levado para o quarto dela, que para nós era a hospedaria do
evangelho.
Ainda pequeno desenvolvi uma doença, bronquite asmática, me sentia
fraco, saúde frágil, não dormia, a falta de respiração às vezes me causava
delírios, minha mãe sofreu muito e nesse sofrimento pra me ver curado me dava
todo tipo de chá que o povo falava que era bom. Um dia cansado de tomar tanto
chá, resolvi jogar o resto que ela me deu pela janela da fazenda, acabei
acertando ela. Foi briga na certa. Meu tio, Rômulo, tinha a mesma doença e
acabou morrendo por fadiga e falta de ar, depois da morte dele eu vi que a minha
fé em Deus para me curar tinha que aumentar. No sofrimento é que a gente
recorre a Deus. E Deus me ouviu, me curou. Mas pouco tempo depois outra doença
aparece, dessa vez uma febre reumática, eu não conseguia andar e as dores eram
intensas, meu coração deformou a válvula mitral, tomava muitas injeções, a
escola ficou difícil, tinha que ir à cavalo. E Deus na sua infinita bondade, me
curou novamente.
Sentia uma vontade de servir a Deus de alguma forma, para agradecê-lo.
Em 1996 comecei a ser catequista, Padre Marcelo Romano, hoje bispo de Araçuaí,
era o pároco de Joanésia, na época eu tinha 16 anos. Com Dom Marcelo conheci
São Francisco de Assis, hoje sou devoto desse Santo que diz: “Pregue o
Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras.”
Em 1999 padre Marcílio Amorim Mendes me convidou para fazer parte da
equipe de coordenação da catequese junto com Célia Pires e Iraci Rodrigues.
Aceitei e em novembro do mesmo ano começamos um estudo bíblico na sede da
diocese com a Irmã Fátima Pimenta. Difícil esquecer o brilho que a irmã Fátima
irradiava quando nos ensinava sobre a Bíblia... Em Guanhães convivi com
catequistas coordenadores de toda a diocese, gente humilde, dedicada e com o tempo
formamos um grupo de amigos. Este estudo serviu para que eu enriquecesse o meu
conhecimento como catequista.
E Deus, depois de tantas maravilhas escritas pra minha vida, me fez
catequista. Preparei muitos adolescentes para o sacramento da Confirmação; na
coordenação, estudamos muito para enriquecer nosso conhecimento das coisas de
Deus.
E Ele reforçou sua bondade para comigo me dando uma família abençoada,
Amanda minha esposa, Giovanna e Pablo Francisco meus filhos, ela com 6 anos e
ele com 6 meses. Depois das tempestades enfrentadas Deus além de tanta bondade
quis me presentear com esses três amores. Hoje eu costumo dizer que depois das
tempestades que enfrentei não é qualquer chuvisco que consegue me molhar. Tenho
comigo uma força que sei que não é minha e sim do Espírito Santo de Deus.
Agora com 32 anos olho pra trás e conto 16 anos como catequista, tudo
começou com uma vontade de agradecer a Deus pela minha cura.
Em setembro de 2012 recebi da
Eliana Alvarenga e Edelveis, essas duas amantes da catequese, um convite para
trabalhar no nosso blog CATECOM, enviando artigos para compartilhar entre os
catequistas da diocese. Uma imensa alegria tomou conta de mim e aceitei na
hora, ou melhor, no mesmo segundo. A poucos dias recebi um email da Eliana em
que ela me dá um novo título: Catequista Virtual.
Sei que Deus tem muitas coisas boas preparadas pra mim, a fé me faz
ver. Vejo meus filhos crescidos e com saúde vencendo na vida, vejo minha esposa
ao meu lado por longos anos felizes, vejo nossa Igreja Católica triunfando,
vencendo os falsos profetas, forte e numerosa. sinto a paz que só Deus pode nos
dar.
Termino de escrever no dia em que nossa Igreja ganha um novo rumo,
sim, novo rumo, um Papa que escolhe o nome Francisco para seu pontificado. Um
novo tempo se aproxima, eu fico na
esperança de uma Igreja mais atenta aos ensinamentos do amigo Francisco de
Assis.
A cruz é pesada, a força para carregá-la é Deus quem nos dá e a
recompensa é grande: amor, paz, união, amigos, família, saúde...
Roberto Magno
Comunidade Nossa Senhora
de Nazaré
Joanésia-MG