É possível pensar e viver o eterno caos?
É possível e desejável o eterno êxtase?
Nem um nem outro!
A vida oscila entre o caos e o êxtase, em sua exata medida, de modo que o excesso de alguma coisa pode ser tão ruim quanto a sua falta.
Não suportaríamos um caos absoluto, bem como não haveria possibilidade do eterno êxtase, logo, viver é buscar este equilíbrio necessário em nossa vida.
Há muitas coisas que acontecem que chamamos de caos, que parecem ser intransponíveis.
Quantas vezes ouvimos ou mesmo dizemos: “Minha vida está um caos!”
Mas aqui está a grandeza da vida: uma situação caótica clama sempre por superação, ainda que parcial, sem a pretensão de se chegar ao êxtase...
Caos relacionamento conjugal pede o diálogo, a luz divina, a reconciliação, o perdão, a superação...
Busca da felicidade possível: entre o caos e o êxtase.
Relacionamento caótico prolongado e/ou êxtase contínuo num casamento é impensável e, muitas vezes, insuportável.
Caos numa relação de amizade pede maior proximidade, maior sinceridade, dedicação, expressão de carinho, avaliação, ponderação, maior atenção com aquele a quem chamamos de amigo.
Reforçar o laço de amizade: entre o caos e o êxtase.
Caos na vivência comunitária pede a proximidade, liberdade, intimidade, solidariedade, amor e verdade.
Fortalecimento da verdadeira comunhão querida: entre o caos e o êxtase.
Caos pela partida abrupta e violenta de uma pessoa pela morte, com suas cicatrizes, que somente com o tempo se tornam suportáveis e superáveis.
A morte muitas vezes se apresenta como caos para quem fica. A sensação de nunca mais a felicidade, de nunca mais o sorriso, a alegria… Mas o mistério da vida comporta a superação da morte. Somente o êxtase vivido em alguns momentos daquele relacionamento é que se tornará fonte para a continuidade do existir.
Viver entre o caos da morte e o êxtase que a vida pode proporcionar.
Caos na vida profissional pede revisão, aperfeiçoamento, novas janelas, novas portas, novas experiências, novos contatos, a busca daquilo que possa, de fato, a pessoa como profissional, realizar: qualificação e realização profissional, na exata medida, entre o caos e o êxtase.
Caos econômico mundial pede a tomada de consciência de que recursos são escassos, economia tem seus limites, há limites para o capital e seu nefasto estrangulamento da vida de pobres e inocentes.
Uma economia globalizada e solidária: entre o caos e o êxtase.
Caos político que multiplica atentados, bombas, vidas destruídas, restos de construções, dores e profundas desolações. Lágrimas de crianças inocentes em capas de jornais estremecem nosso coração.
E, nos perguntamos: "até quando o caos?"
Não creio que o êxtase do relacionamento entre os povos e nações seja possível, pois muitos são os interesses em jogo, radicalismos exacerbados…
Mas no mundo um clamor: convivência na harmonia possível entre o caos e êxtase.
Caos planetário – agrotóxicos, queimadas, ocupações não planejadas, monoculturas de solos destruidoras, camada de ozônio, aquecimento global… superexploração dos recursos finitos pedem – nova mentalidade, nova postura, novos modos de se relacionar com a criação.
Uma nova mentalidade ecológica há que se fortalecer entre o caos e o êxtase da primeira criação.
E a vida tem seus mistérios, seus encantos e desencantos, encontros e desencontros, buscas e perdas, altos e baixos, luzes e sombras, sonhos e pesadelos, ausências e presenças, ausência de sentido e sua eterna busca, coerências e contradições, enfrentamentos e superações, louvores e lamentações…
A vida é, por isto, um livro a ser escrito, página por página, em que o fio condutor é a busca da felicidade, entre o caos e o êxtase, o percorrer de caminhos, às vezes tenebrosos e algumas vezes, ainda que poucas, veredas ensolaradas.
Com a inesgotável luz divina acolhida quotidianamente, vamos procurando o equilíbrio entre o caos e o êxtase.
Sejamos cumulados com a luz divina para que nossos sonhos se tornem perceptíveis no caos, pois sem ela, nossos sonhos teriam contornos e conteúdos de pesadelos.
Sejamos cumulados, também, de gratidão divina, para que o êxtase, ou o seu próximo alcance, não nos faça vítimas da arrogância, onipotência, e indiferença do que merece toda a honra, glória e louvor.
Nem caos que nos desmorone e nos roube perspectivas, pedimos ao Senhor, nem êxtase que nos faça indiferentes à Sua imprescindível ação e presença. Amém.
Dom Otacilio Ferreira de Lacerda
Bispo Diocesano de Guanhães
Nenhum comentário:
Postar um comentário