Uma situação ocorrida há muitos anos não me sai da cabeça: uma catequista, aflita, me procurou, se sentindo fracassada em sua missão. Tudo isso porque sua catequizanda, de sete anos de idade, havia lhe perguntado: “catequista, por que tem um micro-ondas lá na capela”? Tratava-se de um sacrário de aço, de forma retangular, ao qual a menina vinha observando há dias, até que não conteve a pergunta. Procurei mostrar à catequista o quanto a criança havia sido inteligente em sua comparação, bem como a necessidade de uma catequese mais iniciática ao mundo simbólico que compõe a liturgia, mundo esse tão distante do cotidiano de nossas crianças (e também dos adultos!).
Não se trata, portanto, de uma catequese expositiva, que fale sobre liturgia, suas orações e riquezas simbólicas, mas de uma catequese que leve a experiências, verdadeiras vivências dessa riqueza simplesmente desconhecida – e por isso mesmo ignorada! – da nossa liturgia. O documento 11 da CNBB é preciso ao afirmar: “Os catequistas devem se empenhar nessa tarefa, a fim de que as crianças, conscientes de um certo sentido de Deus e das coisas divinas, experimentem, segundo a idade e o progresso pessoal, os valores inseridos na celebração eucarística, tais como: ação comunitária, acolhimento, capacidade de ouvir, bem como a de pedir perdão, ação de graças, percepção das ações simbólicas, da convivência fraterna e da celebração festiva.”
Por isso falamos de celebrar a catequese, e não na catequese. Celebrar o processo catequético e não apenas de vez em quando, por conta de ocasiões especiais e tão raras. É fundamental que o catequista esteja atento ao que acontece no dia a dia da sua comunidade, na vida das crianças, no calendário litúrgico da Igreja e nos temas propostos no itinerário catequético. Tudo é motivo de celebração e se presta à iniciação dos catequizandos ao mistério litúrgico, que se vale dos sinais e palavras para se revelar e tocar nosso coração, fortalecendo a nossa fé e vida cristã.
É no decorrer dos encontros catequéticos que uma vela, por exemplo, passa a ser respeitada como sinal litúrgico, “veículo” da mensagem de fé no Ressuscitado ou da graça batismal, e não apenas um pedaço de cera. É no processo catequético que um sacrário, não importando seu modelo, deixa de ser uma obra de arte ou um micro-ondas e passa a ser lugar especial da presença do Cristo Eucarístico, também alimento para nossa vida, comida a ser servida na grande refeição dos discípulos de Jesus, cujo alimento é seu próprio Corpo para a vida do mundo.
Pe. Vanildo Paiva
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