1 de janeiro de 2013

Por um mundo melhor!


Em um mundo melhor
Há algum tempo estou encantado com o filme cujo título destaco acima. O filme sueco/dinamarquês, dirigido por Susanne Bier ganhou um Oscar de melhor filme estrangeiro. Na disputa, venceu o canadense "Incêndios", dirigido por Denis Villeneuve. Ambos são maravilhosos e fazem parte dos melhores filmes que assisti nos últimos anos. Junto a esta lista o brasileiro "O Palhaço", de Selton Melo que, infelizmente, não conseguiu indicação para concorrer ao prêmio da academia norte-americana e outro filme que também é do final de 2011 e me encanta: Melancolia, do instigante diretor Lars Von Trier.
As imagens das quatro películas bailam em minha memória afetando cada vez mais meu coração. A poesia de O Palhaço puxa o coro, trazendo de braços dados, a plasticidade da luta psicológica gerada pelo choque do planeta Melancolia com a Terra. Antes de explodir, a humanidade precisa achar saída, mas nem buscando suas origens, como os personagens de Incêndios há indícios de paz. Se não fizerem sua parte adotando uma cultura de não violência, a vida se resumirá a vinganças, revanches, derrotas...
Já imaginou levar um tapa no rosto com seu próprio filho ao lado, assistindo tudo, não revidar e diante da indignação do garoto que lhe cobra contra ataque, tentar explicar que violência gera violência, ainda com o rosto ardendo? Já pensou socorrer um paciente que é um bandido, que estupra e rasga o ventre das mocinhas vitimadas e se esforçar por salvar-lhe a vida, pelo fato de ser médico e não poder negar-lhe atendimento e não ter poder para julgá-lo? Coisas assim aparecem no filme do título. Cenas tão estranhas, gritantes e um sonho aceso: um mundo melhor é possível!
Essa mesma questão permeia o filme Incêndios, mas com um cunho mais trágico e como nas famosas tragédias gregas, podem nos levar a catarses interessantes. O Palhaço deixou em mim uma sensação de que a fuga do caos é mesmo a arte, a leveza. Mas como encantar as pessoas com a magia dos palcos, das luzes da ribalta, se palcos já não há mais? E porque tentar buscar saída e construir um mundo melhor se nem sabemos exatamente qual é o sentido da vida? Para que descobrir se de repente o planeta Melancolia pode nos fazer retornar ao pó? Retornar!
Retornar é mesmo preciso? Então, porque não continuamos no simples pó? Porque evoluímos se a involução é certa e inevitável? Não esperem de mim, respostas a tais questões. Pelo andar da carruagem, penso que partirei desta vida sem saber respondê-las. Mas isso, pouco me importa, agora.
O médico de "Em um mundo melhor" segue apanhando e cantando e salvando todas as vidas que pode, sem se questionar se são merecedoras da redenção. Ele sonha viver em um mundo melhor. Eu, como um simples "escrevinhador de quimeras", como já dizia Roberto Drummond, sigo "caminhando cantando e seguindo a canção". Busco, sempre, sua companhia. Se nós conseguiremos fazer a hora, o tempo nos dirá. O fato é que também sonhamos com uma rua, uma cidade, um país, enfim um mundo melhor.
E como personagens de um conto de José Saramago, vamos, todos nós, em busca de nós mesmos. Os pobres, os ricos, os cheios de fé e os sem fé alguma. Os sem terra, os tem teto, os sem roupa, os sem teatro, os sem livro, os sem canção, os sem prato... e também os com excesso de tudo isso, todos nós vamos em busca de nós mesmos, ilhas ainda desconhecidas.
Não sei muito bem. De certo, ninguém deve saber por que há dias em que o céu me dói, todo meu corpo se corrói numa milenar antropofagia, sempre nova a cada dia. Ninguém sabe ao certo. Eu também não o sei muito bem, mas vamos todos, num movimento frenético conscientes da necessidade de nos encontrarmos, mesmo não sabendo quem somos, onde estamos, ou o que somos nós. Mas com certeza, há muito, como Ulisses, desbravamos e exploramos novos mundos todos os dias e nas voltas que damos concretizamos inexoráveis nós com a linha da vida. Como se Penélopes fôssemos todos nós fabricando nós, inextrincáveis nós... A fim de tecer o mundo melhor para agasalhar nossos rebentos.
Que nessa voltinha do ano de 2013 possamos encontrar o ritmo certo para dançar com planeta! Entremos na dança cósmica, enfim!


 Escrito por Evandro Alvarenga às 21h58
                                                                              Os filmes citados são realmente lindos!

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