7 de setembro de 2012

Leia e reflita:



ESTADO A SERVIÇO DA NAÇÃO

                                                                                                                                            Frei Betto

     O  lema do Grito dos Excluídos 2012, a ser celebrado a 7 de setembro pelos  movimentos sociais em várias cidades do Brasil, dá título a este artigo.  Promovido pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o Grito  resgata o verdadeiro sentido de independência  brasileira.
      Nosso Estado é  verdadeiramente democrático? Os países considerados exemplos de democracia,  como EUA, França e Itália, estão atolados na crise econômica. Na Espanha, o  desemprego afeta mais de π da população laboral. A Alemanha banca a prima-dona  do coro dos falidos e a Rússia usa a democracia para sustentar a  autocracia.
      O paradoxal é a China.  Distante do que o Ocidente considera democracia, governada por um partido  único, logra crescer 10% ao ano, não provocar ou envolver-se em guerras,  adotar uma postura antimilitarista e  pacifista.
      Em tese, a democracia seria  o governo do povo para o povo, do Estado a serviço da nação. A realidade não  confirma o ideal. Se o povo se autogovernasse, não passaria fome, não  admitiria sobreviver na pobreza, não condenaria seus filhos ao desemprego nem  permitiria que uma elite acumulasse fortunas  exorbitantes.
      Pela vontade do povo,  todos teriam acesso à alimentação farta e saudável, educação gratuita e  qualificada, serviços de saúde eficientes. 
      Quem governa o povo em nome do povo?  No capitalismo, os que dispõem de amplos recursos financeiros. Vide o custo de  uma campanha eleitoral. O poder econômico se sobrepõe ao político no modelo de  democracia predominante no Ocidente. E o poder político adota uma estrutura  tão complexa que acaba por tornar estéril a representatividade  popular.
      Você vota, mas quem escolhe os  candidatos que merecem o seu voto? E com quem eles se comprometem de fato, com  os anseios dos eleitores ou os interesses econômicos das fontes financiadoras  de campanha? É óbvio, há exceções, mas são raras e limitadas em seu poder de  influir por contrariar anseios  poderosos.
      Quantas vezes vemos, pela  mídia, as portas dos palácios de governo se abrirem aos empresários! Quantas  vezes nossos governantes aparecem sorridentes ao lado dos homens de dinheiro!  Agora compare: quantas vezes mostram a cara ao lado de sindicalistas, líderes  de movimentos populares, sem-terras, ambientalistas e  desempregados?
      Nossa democracia  homeopática é meramente delegativa. Pelo voto, o eleitor delega a um político  o poder de representá-lo. Eleito, o candidato tende a representar, de fato,  quem lhe financiou a campanha. Portanto, nossa democracia é parcialmente  representativa. Representa, na esfera política, quem tem poder na esfera  econômica.
      Estamos muito distantes da  democracia participativa, na qual haveria mecanismos para promover a interação  entre sociedade civil e mundo político, e assegurar transparência na atuação  dos políticos e das instituições do serviço público. Basta lembrar que ainda  vigora, no Brasil, o voto secreto no Congresso Nacional. E até hoje nossas  Forças Armadas resistem à abertura dos arquivos de 21 anos de  ditadura.
      O preocupante é constatar que  democracia e capitalismo passam a ser sinônimos. Um país é considerado  democrata por assegurar a livre concorrência, a especulação na Bolsa de  Valores, o enriquecimento pessoal sem limites, a evasão de divisas através do  turismo meramente consumista e, em consequência, a desigualdade  social.
      Consta que em Atenas, berço da  democracia, havia 20 mil cidadãos livres sustentados pelo trabalho de 400 mil  escravos. Pelo jeito, nosso modelo atual não difere muito do original. 
      Há que adequar teoria e prática. A 7  de setembro os movimentos sociais farão em público este apelo. E a 7 de  outubro nós, eleitores, temos a chance de dar um passo significativo nesse  rumo, votando no direito de o povo ser governado pelo povo. 

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