Eu não me lembrava, mas há um ano ela havia marcado um novo encontro comigo. Disse-me com a convicção dourada das coisas formidáveis, “até o ano que vem”. Eu, meio displicente, meio desconfiado como bom mineiro que sou não considerei a promessa da flor nacional. Já tão calejado por promessas não cumpridas, deixei passar. Tantos foram os “até amanhã” que a despeito de minha ansiedade se transformaram em “até nunca mais” que meu coração, outrora tão frágil, se tornou duro como o concreto elegante das construções de Niemeyer. De tanto esquecimento forçado pelo ir e vir, pelo não ir e pelo não vir de sentimentos. Foram tantos amores findos, tantas amizades entrecortadas pela distância, que aprendi a chorar e deixar o ar desse deserto “Bras-ilha” secar rapidamente as lágrimas do meu rosto. Porém não aprendi a fixar meus olhos ressecados e doloridos no meu próprio umbigo. Eles não me obedecem, querem sempre belos horizontes, o novo, o amanhã, o que virá. Sabem que o andar é para frente. Eles não conseguem ver o que ficou para trás. Insistem em me fazer acreditar que “a tristeza pode durar até o anoitecer, mas alegria sempre vem ao amanhecer” (Salmo 30:5b). Trilhava meu concreto de cada dia, de final de agosto, quando meus olhos me mostraram uma árvore totalmente sem folhas. Eu pensei, com tristeza “lá se vai mais uma”. Tentei vê-la melhor, mas o sol era tão forte... segui meu caminho. Se sepultássemos as árvores, poderíamos escrever em sua lápide: “Aqui jaz Tabebuia Vellosoi – a Flor Nacional. Os brasileiros de todos os cantos jamais se esquecerão dela, que carinhosamente chamavam de Pau D’Arco, Caraibeira, Paratudo, Peúva, Ipeúna, Ipê...” Meu Deus, por que ela não se renova? Por que ela não recebe nova folhagem? Cuá! Como dizia minha avó e minha mãe ainda diz, “seja feita a vossa vontade! Deus sabe o que faz!”. Resignado e sem disposição de chorar por ela. Mudei minha rota por uns dias. Quando retornei ao caminho, trilhava cabisbaixo a minha rotina de admirável gado novo quando meus olhos insistiram... “Olá, que bom que você se lembrou de nosso encontro anual!” Foi o que ouvi daquelas flores tão amarelas, tão intensas quanto o ouro, tão convictas de sua existência e exuberante beleza. E aqui estou eu, registrando a alegria de mais um amanhecer, para não me esquecer de que no próximo ano, no meio da seca de Brasília, voltarei a ver a Flor Nacional. Ela brotará nos galhos secos do ipê à beira do meu caminho, dará cores vivas ao que “um jardineiro diz à rosa”, na canção de Flávio Venturini: “meu amor, não tarda mais a primavera! Vem logo ali, lá vem com o sol, só resta cantar, rouxinol...” Que “a mais brasileiras das árvores”, nos ajude a aumentar ainda mais a nossa fé, que segundo a carta de Paulo aos Hebreus “é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se vêem”, sejam eles amarelos, brancos, roxos formidáveis ou não. "Ontem floriste como por encanto,/ sintetizando toda a primavera;/ mas tuas flores, frágeis entretanto,/ tiveram o esplendor de uma quimera./ Como num sonho, ou num conto de fada,/ se transformando em nívea cascata,/ tuas florzinhas, em sutil balada,/ caíam como se chovesse prata." (Sílvio Ricciardi)
Leia mais: Crônicas do Evandro.
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16 de setembro de 2012
Como já disse... Amo os ipês amarelos
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