Dentro do Catecumenato original, nos primeiros séculos da Igreja, os chamados Sacramentos de Iniciação Cristã (Batismo, Eucaristia e Crisma) aconteciam de modo totalmente integrado ao processo da Catequese, em um momento de plena maturidade da pessoa para a vida cristã. Não eram considerados como fins em si mesmos, mas como uma fonte sempre renovadora da fé, em vista do testemunho a ser dado numa história difícil e desafiante. Eram preparados de modo gradual, sistemático e vivencial, passando o catecúmeno (adulto que se preparava para a vida cristã) por diversas outras celebrações que o conduziam à experiência sacramental e mistagógica. O dramático desaparecimento histórico do Catecumenato fez com que esses sacramentos se separassem, e, até hoje, padecemos de sua falta de unidade teológica, litúrgica e também catequética.
A “Primeira Eucaristia”
Para grande parte de catequizandos e pais – e infelizmente para muitos catequistas também!- a chamada “Primeira Eucaristia” acaba sendo uma meta da catequese, um ponto de chegada, e não um dos importantes momentos celebrativos, ou algo que se integra à vida do catequizando, em vista da vivência madura e comprometida da fé. Tudo gira em torno da sacramentalização, do dia “tão esperado da Primeira Eucaristia”, como se todo o processo catequético tivesse como única finalidade a preparação para essa celebração. Perde-se a noção de catequese permanente, durante toda a vida. Chegar à “Primeira Comunhão” passa a ser o objetivo dos quatro ou mais anos de caminhada catequética e, quando chega essa ocasião, é como se um “diploma” de bom cristão fosse conferido ao catequizando. Essa maneira reducionista de encarar a Eucaristia deve ser revista seriamente.
A começar, as expressões “Primeira Eucaristia” e “Primeira Comunhão” sugerem alguns equívocos e reforçam noções limitadas desse Sacramento. Até que o catequizando comungue, pela primeira vez, o Pão e o Vinho consagrados, de quantas celebrações eucarísticas ele já participou? Quantas vezes ele já experimentou a alegria da comunhão fraterna da assembléia litúrgica, ao rezar “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”? Quantas ele vezes já comungou da Palavra de Deus, alimento servido aos fiéis em cada celebração da qual participou com seus pais e com outras crianças? Certamente não será a sua “primeira”... Chamar de “Primeira Comunhão” àquela celebração, não seria reduzir toda a riqueza da Eucaristia ao fato de comer o Corpo e beber o Sangue de Cristo sob as formas do pão e do vinho, ainda que seja esse um momento solene, de riqueza espiritual imensurável?
Seria mais coerente considerar a “Primeira Comunhão” Eucarística como o cume, ponto mais alto das várias comunhões que o catequizando é chamado a fazer, no seu itinerário de crescimento na fé. Elas precedem e dão maior sentido à comunhão eucarística: a comunhão com o cosmos, o universo, o mundo em que vivemos; a comunhão de amor e fraternidade realizada na vivência familiar; a comunhão com os irmãos da comunidade-Igreja; a comunhão com o irmão empobrecido, necessitado, etc.
Pe. Vanildo Paiva
Especialista em Catequese e Liturgia
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