1 de dezembro de 2019

"ADMIRABILE SIGNUM" - (Sinal Admirável)


CARTA APOSTÓLICA
ADMIRABILE SIGNUM
DO SANTO PADRE
FRANCISCOSOBRE O SIGNIFICADO E VALOR DO PRESÉPIO
  1. O SINAL ADMIRÁVEL do Presépio, muito amado pelo povo cristão, não cessa de suscitar maravilha e enlevo. Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. De facto, o Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele. Com esta Carta, quero apoiar a tradição bonita das nossas famílias prepararem o Presépio, nos dias que antecedem o Natal, e também o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças… Trata-se verdadeiramente dum exercício de imaginação criativa, que recorre aos mais variados materiais para produzir, em miniatura, obras-primas de beleza. Aprende-se em criança, quando o pai e a mãe, juntamente com os avós, transmitem este gracioso costume, que encerra uma rica espiritualidade popular. Almejo que esta prática nunca desapareça; mais, espero que a mesma, onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar.
  2. A origem do Presépio fica-se a dever, antes de mais nada, a alguns pormenores do nascimento de Jesus em Belém, referidos no Evangelho. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, «teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria» (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como «o pão vivo, o que desceu do céu» (Jo6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: «Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento».[1]Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária. Passemos agora à origem do Presépio, tal como nós o entendemos. A mente leva-nos a Gréccio, na Valada de Rieti; aqui se deteve São Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas grutas, depois da sua viagem à Terra Santa, faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém. E é possível que, em Roma, o «Poverello» de Assis tenha ficado encantado com os mosaicos, na Basílica de Santa Maria Maior, que representam a natividade de Jesus e se encontram perto do lugar onde, segundo uma antiga tradição, se conservam precisamente as tábuas da manjedoura. As Fontes Franciscanasnarram, de forma detalhada, o que aconteceu em Gréccio. Quinze dias antes do Natal, Francisco chamou João, um homem daquela terra, para lhe pedir que o ajudasse a concretizar um desejo: «Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incómodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro».[2]Mal acabara de o ouvir, o fiel amigo foi preparar, no lugar designado, tudo o que era necessário segundo o desejo do Santo. No dia 25 de dezembro, chegaram a Gréccio muitos frades, vindos de vários lados, e também homens e mulheres das casas da região, trazendo flores e tochas para iluminar aquela noite santa. Francisco, ao chegar, encontrou a manjedoura com palha, o boi e o burro. À vista da representação do Natal, as pessoas lá reunidas manifestaram uma alegria indescritível, como nunca tinham sentido antes. Depois o sacerdote celebrou solenemente a Eucaristia sobre a manjedoura, mostrando também deste modo a ligação que existe entre a Encarnação do Filho de Deus e a Eucaristia. Em Gréccio, naquela ocasião, não havia figuras; o Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes.[3] Assim nasce a nossa tradição: todos à volta da gruta e repletos de alegria, sem qualquer distância entre o acontecimento que se realiza e as pessoas que participam no mistério. O primeiro biógrafo de São Francisco, Tomás de Celano, lembra que naquela noite, à simples e comovente representação se veio juntar o dom duma visão maravilhosa: um dos presentes viu que jazia na manjedoura o próprio Menino Jesus. Daquele Presépio do Natal de 1223, «todos voltaram para suas casas cheios de inefável alegria»[4].
  3. Com a simplicidade daquele sinal, São Francisco realizou uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé. Aliás, o próprio lugar onde se realizou o primeiro Presépio sugere e suscita estes sentimentos. Gréccio torna-se um refúgio para a alma que se esconde na rocha, deixando-se envolver pelo silêncio. Por que motivo suscita o Presépio tanto enlevo e nos comove? Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez. O dom da vida, sempre misterioso para nós, fascina-nos ainda mais ao vermos que Aquele que nasceu de Maria é a fonte e o sustento de toda a vida. Em Jesus, o Pai deu-nos um irmão, que vem procurar-nos quando estamos desorientados e perdemos o rumo, e um amigo fiel, que está sempre ao nosso lado; deu-nos o seu Filho, que nos perdoa e levanta do pecado. Armar o Presépio em nossas casas ajuda-nos a reviver a história sucedida em Belém. Naturalmente os Evangelhos continuam a ser a fonte, que nos permite conhecer e meditar aquele Acontecimento; mas, a sua representação no Presépio ajuda a imaginar as várias cenas, estimula os afetos, convida a sentir-nos envolvidos na história da salvação, contemporâneos daquele evento que se torna vivo e atual nos mais variados contextos históricos e culturais. De modo particular, desde a sua origem franciscana, o Presépio é um convite a «sentir», a «tocar» a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados (cf. Mt25, 31-46).
  4. Gostava agora de repassar os vários sinais do Presépio para apreendermos o significado que encerram. Em primeiro lugar, representamos o céu estrelado na escuridão e no silêncio da noite. Fazemo-lo não apenas para ser fiéis às narrações do Evangelho, mas também pelo significado que possui. Pensemos nas vezes sem conta que a noite envolve a nossa vida. Pois bem, mesmo em tais momentos, Deus não nos deixa sozinhos, mas faz-Se presente para dar resposta às questões decisivas sobre o sentido da nossa existência: Quem sou eu? Donde venho? Por que nasci neste tempo? Por que amo? Por que sofro? Por que hei de morrer? Foi para dar uma resposta a estas questões que Deus Se fez homem. A sua proximidade traz luz onde há escuridão, e ilumina a quantos atravessam as trevas do sofrimento (cf. Lc1, 79). Merecem também uma referência as paisagens que fazem parte do Presépio; muitas vezes aparecem representadas as ruínas de casas e palácios antigos que, nalguns casos, substituem a gruta de Belém tornando-se a habitação da Sagrada Família. Parece que estas ruínas se inspiram na Legenda Áurea, do dominicano Jacopo de Varazze (século XIII), onde se refere a crença pagã segundo a qual o templo da Paz, em Roma, iria desabar quando desse à luz uma Virgem. Aquelas ruínas são sinal visível sobretudo da humanidade decaída, de tudo aquilo que cai em ruína, que se corrompe e definha. Este cenário diz que Jesus é a novidade no meio dum mundo velho, e veio para curar e reconstruir, para reconduzir a nossa vida e o mundo ao seu esplendor originário.
  5. Uma grande emoção se deveria apoderar de nós, ao colocarmos no Presépio as montanhas, os riachos, as ovelhas e os pastores! Pois assim lembramos, como preanunciaram os profetas, que toda a criação participa na festa da vinda do Messias. Os anjos e a estrela-cometa são o sinal de que também nós somos chamados a pôr-nos a caminho para ir até à gruta adorar o Senhor. «Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer» (Lc2, 15): assim falam os pastores, depois do anúncio que os anjos lhes fizeram. É um ensinamento muito belo, que nos é dado na simplicidade da descrição. Ao contrário de tanta gente ocupada a fazer muitas outras coisas, os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida. São os mais humildes e os mais pobres que sabem acolher o acontecimento da Encarnação. A Deus, que vem ao nosso encontro no Menino Jesus, os pastores respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, para um encontro de amor e de grata admiração. É precisamente este encontro entre Deus e os seus filhos, graças a Jesus, que dá vida à nossa religião e constitui a sua beleza singular, que transparece de modo particular no Presépio.
  6. Nos nossos Presépios, costumamos colocar muitas figuras simbólicas. Em primeiro lugar, as de mendigos e pessoas que não conhecem outra abundância a não ser a do coração. Também estas figuras estão próximas do Menino Jesus de pleno direito, sem que ninguém possa expulsá-las ou afastá-las dum berço de tal modo improvisado que os pobres, ao seu redor, não destoam absolutamente. Antes, os pobres são os privilegiados deste mistério e, muitas vezes, aqueles que melhor conseguem reconhecer a presença de Deus no meio de nós. No Presépio, os pobres e os simples lembram-nos que Deus Se faz homem para aqueles que mais sentem a necessidade do seu amor e pedem a sua proximidade. Jesus, «manso e humilde de coração» (Mt11, 29), nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial. Do Presépio surge, clara, a mensagem de que não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade. Como pano de fundo, aparece o palácio de Herodes, fechado, surdo ao jubiloso anúncio. Nascendo no Presépio, o próprio Deus dá início à única verdadeira revolução que dá esperança e dignidade aos deserdados, aos marginalizados: a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado. Muitas vezes, as crianças (mas os adultos também!) gostam de acrescentar, no Presépio, outras figuras que parecem não ter qualquer relação com as narrações do Evangelho. Contudo esta imaginação pretende expressar que, neste mundo novo inaugurado por Jesus, há espaço para tudo o que é humano e para toda a criatura. Do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam… tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha connosco a sua vida divina.
  7. A pouco e pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo. A sua figura faz pensar no grande mistério que envolveu esta jovem, quando Deus bateu à porta do seu coração imaculado. Ao anúncio do anjo que Lhe pedia para Se tornar a mãe de Deus, Maria responde com obediência plena e total. As suas palavras – «eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc1, 38) – são, para todos nós, o testemunho do modo como abandonar-se, na fé, à vontade de Deus. Com aquele «sim», Maria tornava-Se mãe do Filho de Deus, sem perder – antes, graças a Ele, consagrando – a sua virgindade. N’Ela, vemos a Mãe de Deus que não guarda o seu Filho só para Si mesma, mas pede a todos que obedeçam à palavra d’Ele e a ponham em prática (cf. Jo2, 5). Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José. Geralmente, é representado com o bordão na mão e, por vezes, também segurando um lampião. São José desempenha um papel muito importante na vida de Jesus e Maria. É o guardião que nunca se cansa de proteger a sua família. Quando Deus o avisar da ameaça de Herodes, não hesitará a pôr-se em viagem emigrando para o Egito (cf. Mt 2, 13-15). E depois, passado o perigo, reconduzirá a família para Nazaré, onde será o primeiro educador de Jesus, na sua infância e adolescência. José trazia no coração o grande mistério que envolvia Maria, sua esposa, e Jesus; homem justo que era, sempre se entregou à vontade de Deus e pô-la em prática.
  8. O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços. Naquela fraqueza e fragilidade, esconde o seu poder que tudo cria e transforma. Parece impossível, mas é assim: em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja. O nascimento duma criança suscita alegria e encanto, porque nos coloca perante o grande mistério da vida. Quando vemos brilhar os olhos dos jovens esposos diante do seu filho recém-nascido, compreendemos os sentimentos de Maria e José que, olhando o Menino Jesus, entreviam a presença de Deus na sua vida. «De facto, a vida manifestou-se» (1 Jo1, 2): assim o apóstolo João resume o mistério da Encarnação. O Presépio faz-nos ver, faz-nos tocar este acontecimento único e extraordinário que mudou o curso da história e a partir do qual também se contam os anos, antes e depois do nascimento de Cristo. O modo de agir de Deus quase cria vertigens, pois parece impossível que Ele renuncie à sua glória para Se fazer homem como nós. Que surpresa ver Deus adotar os nossos próprios comportamentos: dorme, mama ao peito da mãe, chora e brinca, como todas as crianças. Como sempre, Deus gera perplexidade, é imprevisível, aparece continuamente fora dos nossos esquemas. Assim o Presépio, ao mesmo tempo que nos mostra Deus tal como entrou no mundo, desafia-nos a imaginar a nossa vida inserida na de Deus; convida a tornar-nos seus discípulos, se quisermos alcançar o sentido último da vida.
  9. Quando se aproxima a festa da Epifania, colocam-se no Presépio as três figuras dos Reis Magos. Tendo observado a estrela, aqueles sábios e ricos senhores do Oriente puseram-se a caminho rumo a Belém para conhecer Jesus e oferecer-Lhe de presente ouro, incenso e mirra. Estes presentes têm também um significado alegórico: o ouro honra a realeza de Jesus; o incenso, a sua divindade; a mirra, a sua humanidade sagrada que experimentará a morte e a sepultura. Ao fixarmos esta cena no Presépio, somos chamados a refletir sobre a responsabilidade que cada cristão tem de ser evangelizador. Cada um de nós torna-se portador da Boa-Nova para as pessoas que encontra, testemunhando a alegria de ter conhecido Jesus e o seu amor; e fá-lo com ações concretas de misericórdia. Os Magos ensinam que se pode partir de muito longe para chegar a Cristo: são homens ricos, estrangeiros sábios, sedentos de infinito, que saem para uma viagem longa e perigosa e que os leva até Belém (cf. Mt2, 1-12). À vista do Menino Rei, invade-os uma grande alegria. Não se deixam escandalizar pela pobreza do ambiente; não hesitam em pôr-se de joelhos e adorá-Lo. Diante d’Ele compreendem que Deus, tal como regula com soberana sabedoria o curso dos astros, assim também guia o curso da história, derrubando os poderosos e exaltando os humildes. E de certeza, quando regressaram ao seu país, falaram deste encontro surpreendente com o Messias, inaugurando a viagem do Evangelho entre os gentios.
  10. Diante do Presépio, a mente corre de bom grado aos tempos em que se era criança e se esperava, com impaciência, o tempo para começar a construí-lo. Estas recordações induzem-nos a tomar consciência sempre de novo do grande dom que nos foi feito, transmitindo-nos a fé; e ao mesmo tempo, fazem-nos sentir o dever e a alegria de comunicar a mesma experiência aos filhos e netos. Não é importante a forma como se arma o Presépio; pode ser sempre igual ou modificá-la cada ano. O que conta, é que fale à nossa vida. Por todo o lado e na forma que for, o Presépio narra o amor de Deus, o Deus que Se fez menino para nos dizer quão próximo está de cada ser humano, independentemente da condição em que este se encontre. Queridos irmãos e irmãs, o Presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé. A partir da infância e, depois, em cada idade da vida, educa-nos para contemplar Jesus, sentir o amor de Deus por nós, sentir e acreditar que Deus está connosco e nós estamos com Ele, todos filhos e irmãos graças àquele Menino Filho de Deus e da Virgem Maria. E educa para sentir que nisto está a felicidade. Na escola de São Francisco, abramos o coração a esta graça simples, deixemos que do encanto nasça uma prece humilde: o nosso «obrigado» a Deus, que tudo quis partilhar connosco para nunca nos deixar sozinhos.
Dado em Gréccio, no Santuário do Presépio, a 1 de dezembro de 2019, sétimo do meu pontificado.


Franciscus

[1] Santo Agostinho, Sermão 189, 4.
[2] Tomás de Celano, Vita Prima, 85: Fontes Franciscanas, 468.
[3] Cf. ibid., 85: o. c., 469.
[4] Ibid., 86: o. c., 470.

20 de outubro de 2019

Comunicado!


O poder da Oração

A Liturgia de hoje nos convida a manter com Deus
uma ORAÇÃO PERSEVERANTE.
Só assim será possível aceitar os projetos de Deus,
compreender os seus silêncios,
respeitar os seus ritmos e acreditar no seu amor.

Na 1a Leitura, MOISÉS não desiste de rezar. (Ex 17,9-13a)

O Povo de Deus está a caminho da Terra Prometida...
- Josué organiza seus homens para lutar contra os inimigos com as armas.
- Moisés, no alto da colina, de "mãos erguidas", faz uso da arma da Oração.
  Duas pessoas sustentam os braços cansados de Moisés.
  A vitória foi alcançada muito mais pelo auxílio de Deus,
  do que pelo valor dos combatentes.

* Nas duras batalhas da vida, devemos contar com a ajuda e a força de Deus.
   Devemos manter, como Moisés, as "Mãos sempre erguidas" em oração,
   sem nos deixar vencer pelo cansaço.

Na 2a Leitura, PAULO indica uma fonte preciosa que alimenta a Oração:
A Sagrada Escritura:
 "Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar,
   para corrigir, para educar na justiça... Por ela, o homem de Deus
   se torna perfeito, preparado para toda a boa obra". (2Tm 3,14-4,2)

* A Bíblia é o fundamento da fé e o vigor das comunidades.
A Instrução bíblica constitui o equipamento vital do homem de Deus,
aos ministros da Palavra, uma preparação conveniente,
para que ela se torne atraente e chegue ao coração dos ouvintes.
O Documento de Aparecida afirma:
"Uma maneira privilegiada de ler a Bíblia
é a LEITURA ORANTE DA BÍBLIA...
Bem praticada, conduz ao encontro com Jesus-Mestre,
ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias,
à comunhão com Jesus-Filho de Deus e
ao testemunho de Jesus-Senhor do universo". (DA 249)

No Evangelho, a VIÚVA não desiste de implorar. (Lc 18,1-8)

"Para mostrar a necessidade de REZAR SEMPRE, e nunca desistir":
Jesus contou aos discípulos uma PARÁBOLA:
- Uma viúva injustiçada pede justiça... mas o juiz não lhe dá ouvidos...
   Ela tanto insiste, que o juiz acaba atendendo.
   A insistência da viúva vence a indiferença do juiz iníquo.
- Se até um homem mau cede diante de um pedido incessante,
  quanto mais Deus, que é justo e santo, nos atenderá e salvará...
  A Oração deve ser um Diálogo insistente e contínuo...

* Deus está sempre atento aos nossos pedidos,
   mesmo quando "parece" insensível aos nossos apelos,
   aos nossos clamores por justiça. Geralmente temos pressa...
   Ele sabe a hora e o momento para cada coisa.
   A nós resta moderar a impaciência e confiar totalmente nele.

+ "REZAR SEMPRE"...

- Significa nunca interromper o DIÁLOGO com Deus,
   mesmo no aparente silêncio de Deus.
   "É a presença silenciosa de Deus na base
   do nosso pensamento, da nossa reflexão e do nosso ser,
   que impregna toda a nossa consciência". (Bento XVI)

- Nesse diálogo, Deus transforma os nossos corações e
  aprendemos a nos entregar nas mãos de Deus e confiar nele.
  Se interrompermos esse contado, se deixarmos "cair os braços",
  logo fracassaremos.

+ A Oração não é uma fórmula mágica
   para levar Deus a fazer nossa vontade ou até nossos caprichos.
   Não é um simples ato de piedade, ou expressão do sentimento;
   mas antes um ato de fé e de amor,
   que nos abre ao DIÁLOGO COM DEUS.

+ Rezar é CONVERSAR com Deus: Falar e Escutar...
   As Orações não precisam de palavras complicadas.
   Existem orações escritas que rezamos, mas também as orações
   que são feitas quando queremos conversar com Deus do nosso jeito.
   Deus é o nosso melhor amigo e gosta de nos ouvir.

+ Rezar é fazer SILÊNCIO profundo
   para ouvir Deus, acolher a sua Palavra
   e assim nos dispor a fazer a sua vontade...

+ Rezar é uma RESPOSTA vivencial e verbal,
   que poderá assumir várias FORMAS: Ação de graças... Contemplação...   
   Profissão de fé... Declaração de entrega... Pedido...

+ UM DESAFIO: (convite):
    Nesta semana: encontrar todos os dias um tempo sagrado
    para uma Oração (conversa) pessoal com Deus...
    A Oração perseverante ajudará a ser "Discípulos-Missionários"

Batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo:
É o título da mensagem do papa para o Dia Mundial das Missões:
"A Igreja está em missão no mundo: a FÉ em Jesus Cristo dá-nos a justa dimensão de todas as coisas, fazendo-nos ver o mundo com os olhos e o coração de Deus; a ESPERANÇA abre-nos aos horizontes eternos da vida divina,
de que verdadeiramente participamos; a CARIDADE, que antegozamos nos sacramentos e no amor fraterno, impele-nos até aos confins da terra". (Papa Francisco).
Pe. Antônio Geraldo Dalla Costa

8 de setembro de 2019

Liturgia e Catequese!


Por: Maria do Socorro Santos
Vamos conversar um pouco sobre um assunto que tantas vezes nos confunde e nos deixa sem respostas diante do que realmente é, e como fazer acontecer no nosso trabalho pastoral catequético litúrgico.
Não podemos falar de Catequese e Liturgia sem ter uma visão do que seja Iniciação a Vida Cristã, esse assunto que nos nossos dias está nos questionando na nossa ação catequética e litúrgica. Vamos partir dos acontecimentos de estudos e Documentos que a Igreja nos oferece para que possamos assim poder fazer um trabalho com eficácia, e levar as pessoas realmente fazer a experiência de Jesus, vivendo assim uma autêntica vida cristã.
A 3ª Semana Brasileira de Catequese propôs um rico e aprofundado diálogo a respeito de uma Catequese com Iniciação cristã, isto é, que auxilie eficazmente no processo de iniciação da cada catequizando á experiência de Jesus Cristo, especialmente na vida comunitária e eclesial. Por todos os cantos do país fez ecoar palavras que expressam experiências significativas, expectativas, temores, anseios e, sobretudo, o sonho de uma Catequese liberta do peso das prescrições e cristalizações doutrinárias e de cunho simplesmente sacramentalista. A Imagem do caminho é paradigmático nesse momento fecundo vivido pela Igreja e, especialmente, pelos Catequistas de nosso Brasil.
Aliás, essa imagem sempre se prestou, na história, para falar da iniciativa divina de aproximar-se da realidade de seu povo para propor-lhe amorosamente a salvação (cf. Ex 3,18; Dt 8,2;Jó 23,11; Sl 119,1;Is 2,3; Jr 7,3). Jesus é o Deus caminheiro, que “armou sua tenda no meio de nós” (cf. Jo 1,14) para falar-nos bem de perto como um amigo fala com outro amigo, tornando-se Ele próprio caminho para o Pai: “Eu sou o Caminho. A Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Falar do caminho trilhado pela Catequese é recordar o testemunho vigoroso de tantas mulheres e homens que, ao longo de toda a história do Cristianismo, sinalizaram para os valores do Reino e conduziram, consigo, inúmeras pessoas à experiência de Jesus Cristo como Senhor e Salvador. É trazer á memória os Santos e Mártires deste continente sofrido, que aqui fecundaram a terra com seu sangue, de cuja semeadura colhemos preciosos frutos! É falar de tantos Catequistas que, em cada época, deram o melhor de si, para que Jesus fosse mais conhecido, amado e seguido. E Jesus nos pergunta, como naquele dia perguntou aos dois discípulos que caminhavam tristes, desolados fugindo para Emaús: “O que vocês estão conversando pelo caminho?” (Lc 24,17). É Ele quem nos convida a olhar para sua prática e a reaprender seu jeito especial de Catequizar.
A catequese inicia a vida litúrgica!
“Jesus explicava para os seus discípulos todas as passagens da Escritura que falava a respeito dele” (Lc 24,27). É na caminhada com os discípulos que Jesus tem a oportunidade de aquecer os seus corações, explicando-lhes as Escrituras e o modo como o Mistério Pascal a eles se vincula. Ele, Palavra viva, fala com os seus de tal maneira a tirar-lhes as fendas dos olhos, levando-os á mesa da refeição e da experiência plena da Ressurreição. Isso nos faz pensar o quanto nossa experiência litúrgica ainda carece de autentica iniciação, o que pode ser oferecido, em grande parte, pela Catequese. São inúmeros os Documentos da Igreja que ressaltam essa necessária interação entre as dimensões litúrgica e bíblico-catequética.
A Exortação Apostólica Catechesi Tradendae ( A catequese em nosso tempo), em 1979, escrita pelo Papa João Paulo II, aponta seguramente a necessária e intrínseca ligação entre catequese e liturgia, quando diz, de forma explicita: “A catequese está intrinsecamente ligada com toda a ação litúrgica e sacramental, porque é nos Sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens. (…) A catequese leva necessariamente aos sacramentos da fé. Por outro lado, uma autêntica prática dos Sacramentos tem forçosamente um aspecto catequético. Em outras palavras, a vida sacramental se empobrece e bem depressa se torna um ritualismo oco, se ela não estiver fundada num conhecimento sério do que significam os sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não haurir vida numa prática sacramental” (CT 23).
O Documento Catequese Renovada, traz dois preciosos números que merecem destaque por refletir a importância da interação entre Catequese e Liturgia. No número 89, lê-se: “Não só pela riqueza de seu conteúdo bíblico, mas pela sua natureza de síntese e cume de toda a vida cristã, a Liturgia é fonte inesgotável de Catequese. Nela se encontra a ação santificadora de Deus e a expressão orante da fé da comunidade. As celebrações litúrgicas, com a riqueza de suas palavras e ações, mensagens e sinais, podem ser consideradas ‘uma catequese em ato’. Mas por sua vez, para serem bem compreendidas e participadas, as celebrações litúrgicas ou sacramentais exigem uma catequese de preparação ou iniciação”. E o número posterior acrescenta: “A Liturgia, com sua peculiar organização do tempo (domingos, períodos litúrgicos como Advento, Natal, Quaresma, Páscoa etc.) pode e deve ser ocasião privilegiada de catequese, abrindo novas perspectivas para o crescimento da fé, através das orações, reflexão, imitação dos santos, e descoberta não só intelectual, mas também sensível e estética dos valores e das expressões da vida cristã” (CR 90).
O Documento 84 da CNBB, Diretório Nacional de Catequese, dedicou vários números ao tema da catequese e liturgia, sempre reafirmando a mútua dependência dessas duas dimensões da ação pastoral da Igreja. Considerada, primeiramente, a liturgia como fonte da Catequese, e cita a proclamação da Palavra, a homilia, as orações, os ritos sacramentais, a vivência do ano litúrgico e as festas como momentos de educação e crescimento na fé (cf DNC 118). Sem titubear, afirma que “os autênticos itinerários catequéticos são aqueles que incluem em seu processo o momento celebrativo como componente essencial da experiência religiosa cristã”(Idem). Logo a seguir, o Diretório insiste na Catequese litúrgica, dizendo que “é tarefa fundamental da catequese iniciar eficazmente os catecúmenos e catequizandos nos sinais litúrgicos e através deles introduzi-los no mistério pascal” (DNC 120). Assim sendo, aponta como missão da catequese preparar o cristão aos sacramentos e o ajudar a vivenciá-los através das orações, gestos e sinais, silêncio, contemplação, presença de Maria e dos santos, escuta da Palavra etc. (cf. DNC 120). No texto preparatório para a 47ª Assembleia da CNBB, encontramos a seguinte afirmação: “É muito comum criticar um certo tipo de Catequese, considerada sacramentalista. Com isso se quer falar do costume de fazer do sacramento uma espécie de ‘festa de formatura’, fim do caminho, despedida da Igreja. O sacramento vira uma espécie de costume, uma devoção a mais, sem consideração do conjunto do compromisso de fé que ele sinaliza e exige”(63). E o texto continua: “E aí temos um desafio. Temos que afirmar que todo verdadeiro processo catequético desemboca na celebração dos sacramentos, como momento culminante da participação no mistério de Cristo. O Vaticano II afirma que a liturgia é cume e fonte da vida cristã (cf. SC 10). O sacramento é a consequência de uma fé assumida, mas é também realimentação contínua dessa mesma fé. Celebramos porque cremos e assumimos (é o cume, sinal máximo de vivência e compromisso), mas, ao celebrar, fortalecemos essa crença e esse compromisso, nos alimentamos na fonte, o que nos leva a celebrar de novo, num processo que se autosustenta. Portanto, a catequese deve levar ao sacramento. Não tem sentido fazer de outro jeito. Mas só um bom processo de iniciação pode dar ao sacramento o lugar que lhe cabe, que não faça dele um ponto de chegada sem prosseguimento do caminho” (64-65).
Sobre a iniciação catequética das crianças, a própria Liturgia, por si só, já ofereça ás crianças amplas oportunidades de aprender, a catequese da Missa merece um lugar de destaque dentro da Catequese, conduzindo-as a uma participação ativa, consciente e genuína. Essa catequese, bem adaptada á idade e á capacidade das crianças, deve tender a que conheçam o significado da Missa por meio dos ritos principais e pelas orações, inclusive o que diz respeito à participação da vida da Igreja. Isso se refere principalmente aos textos da própria Oração Eucarística e às aclamações, por meio das quais as crianças delas participam. Tudo isso nos faz pensar na grande tarefa que temos de uma catequese de iniciação que realmente introduza o catequizando na experiência de Deus realizada na liturgia, conhecendo e dando sentido aos símbolos, sinais, linguagem, ritos e tudo o que compõe nosso universo litúrgico, às vezes tão distante da realidade do povo, sobretudo de crianças, adolescentes e jovens, quando não extremamente árido e enfadonho.
Por isso é importante que a Pastoral Litúrgica não pode perder de vista em nenhum momento a Liturgia dentro da Catequese. Um bom trabalho da Pastoral Litúrgica com a ajuda dos Catequistas, é necessário na formação litúrgica de qualquer Comunidade. A Catequese é o melhor momento formativo para aprender a celebrar celebrando. Pois Liturgia e Catequese devem caminhar de mãos dadas. Claro que uma não se confunde com a outra, mas em ambas existem espaços que se inter-relacionam. Toda ação celebrativa tem elementos catequéticos em seu desenvolvimento e toda ação catequética deveria ter elementos celebrativos em seu processo pedagógico. Dois pontos importantes deveríamos ter em mente que “elementos catequéticos” deveria ter elementos celebrativos”. Como em todas as celebrações existem elementos catequéticos, é bom lembrar que eles se expressam nos gestos, sinais ou símbolos ou de algum comentário para orientar a compreensão de um momento, da homilia que pode ser catequética dependendo do assunto. Tudo isso consideramos como elementos catequéticos dentro da celebração litúrgica. Mas, é bom lembrar também que quando falamos em celebração não significa que é somente a missa. Mas toda ação celebrativa que se faz na catequese nos encontros realizados. Como por exemplo: Celebrar a amizade, a comunidade, a vida, a criação, a fé que se fortaleceu por meio da catequese. E se durante determinado número de encontros catequéticos sobre o perdão, é bom que para concluir este assunto se faça uma celebração envolvendo os catequizandos. Preparar bem os cânticos, os símbolos, etc… Assim a inspiração litúrgica vai entrando na vida dos catequizandos e estes vão aprendendo a celebrar celebrando.
Isso na prática, significa o seguinte: os próprios catequizandos fazem suas celebrações. Sob a orientação do catequista, eles criam a celebração em tudo aquilo que for necessário: ambientação, escolha dos cânticos, dos textos bíblicos, ornamentação, símbolos e sinais. Veja que tudo parte deles. Se são crianças, farão a celebração do seu modo; se jovem, do jeito de jovem. O mais importante neste processo é que eles, os catequizandos, sintam-se os “fazedores” da celebração. Aprender a celebrar celebrando tem também o outro lado da moeda. O catequista deve ter o mínimo de noção da Liturgia e da celebração. Deve saber que a música de entrada não pode ser cantada como aclamação da Palavra de Deus. Deve saber quais símbolos são mais apropriados para determinada celebração, e assim por diante. O outro lado da moeda é a formação litúrgica do Catequista que deve, também ele, aprender a celebrar celebrando. Todo Catequista deve procurar conhecer bem a Liturgia da Igreja. É preciso que saiba incentivar seus catequizandos a celebrar bem e celebrar liturgicamente, na Igreja. Por isso, todo Catequista é responsável direto pela formação dos futuros celebrantes. Disso decorre a necessidade de estudar e aprender sempre mais sobre a Liturgia.
Fonte: Blogger Bíblia e Catequese.