Crônica jornalística do jornalista Evandro Alvarenga veiculada no dia 30 de janeiro,na Vida NovaFM
Aqui do alto da minha “Zépovice” – que me
desculpem os dicionaristas – queria decretar o dia do amigo. No entanto, “Zé
Povim” que sou, eu não posso decretar nada, legislar nada... Pensando bem, de
que me serviria o decreto de um dia do amigo, se posso ter todos os dias para
os amigos? Em sua emblemática “Canção da
América”, Milton Nascimento diz que “amigo é coisa pra se guardar do lado
esquerdo do peito, mesmo que o tempo e distância digam não”.
Interessante é que, de forma magistralmente
poética o grande Bituca, cria uma situação de despedida, na qual o medo do
distanciamento de uma amizade faz os entes cantarem e afirmarem que “venha o
que vier qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar”. Para ser sincero o que
eu eu queria mesmo, hoje, é fazer uma oração por um amigo. Mas não sou a pessoa
indicada para isso.
Antigamente, minha doce professora Dona Sondes
Ventura me dizia que rezar ou orar é falar ou prosear com Deus. Um grande
amigo, Pastor Marcos Leal, certamente ainda me diria que há momentos na oração
em que não sabemos como falar, que o espírito de Deus intercede por nós se
possível até com gemidos, por nós não identificados.
Então, sem medo de ser feliz, faço minha prosa
para um amigo e que Deus, o amigo fidelíssimo a possa ouvir com o carinho de
sempre. Falo do amigo Padre Saint Clair Ferreira Filho, com quem convivemos por
duas décadas. Proseio para ele e por ele que agora bota os pés na estrada e
segue em frente, como quem muito bem conhece as manhas e as manhãs, como quem
sabe discernir o sabor das massas e das maçãs.
Quando você aqui chegou amigo, veio acreditando
que os vales de ossos podem reviver. E se quem tem fé move montanhas algumas
foram movidas aqui. Deus o fez, Deus o faz, para honrar quem tem fé. Para isso
houve disposição e luta. Foi este, o ponto forte de nossa convivência, muita
persistência e firmeza, por mais, que os pés nos doessem.
Quando eu conheci o amigo Saint Clair, a batalha
espiritual na paróquia já se fazia com intensidade. Nunca fui o modelo do
católico, nem do cristão exemplar. Mas isso nem é necessário para se perceber
onde Deus está agindo de uma forma ou de outra. Assim, de imediato admirei sua
firmeza. Sua concepção bíblica da palavra sim e de seu antônimo, o não. Ambos
ditos sem medo, no tom exato, com sabedoria.
Logo vi que havia muito mais a admirar naquele
religioso, homem de fé e ser humano ímpar. Foi fácil perceber sua forma de
evangelizar anunciando a boa nova e também denunciando a podridão que corrompe
o mundo e os corações dos seres humanos. Até hoje, ainda tento ser seu aprendiz
nesta disciplina especial e emblemática.
Em 2001, quando estive uma temporada na Rádio
Vida Nova, pude ver no administrador Saint Clair, um visionário. Conheci nele
uma pessoa que me instigava ao trabalho e exigia de forma muito humana. Ao
mesmo tempo em que entendia minha limitação profissional, me abria espaços e
ampliava meus horizontes, como quem dizia: o céu é o limite, mas é você quem
irá caminhar. Tenho certeza que todos os funcionários e até ex-funcionários
desta emissora podem dizer o mesmo e muito mais sobre tal convivência. Sou um
privilegiado por poder fazer esta prosa.
Depois, por meio do meu blog, conheci o artista,
o mecenas, o admirador de literatura das artes e incentivador de artistas e
poetas. À sua maneira, Saint Clair via nas minhas crônicas uma maneira de
servir a população de falar sobre deveres, direitos e cidadania... Ele me
convidou em outubro de 2012 para fazer algo neste sentido, nas ondas da Rádio
vida Nova FM, sob sua responsabilidade administrativa. Sem saber exatamente
onde isso iria chegar, topei. Isso me trouxe de volta à Rádio em janeiro de
2013, como colaborador.
Assim, se hoje podemos ter esse Dedo de Prosa na
rádio, devemos agradecer ao padre Saint Clair, por sua visão humana e social e
por sua coragem e sabedoria em tratar com a coisa pública. Não são todos os
religiosos que entendem que a ética é antes de um valor, um dever,
absolutamente cristão.
Gostaria de poder assinalar uma palavra de cada
ouvinte e de cada guanhanense que teve o prazer de conhecê-lo e conviver com
ele. Mas aí eu preencheria enciclopédias inteiras. Um muito obrigado pelo
menos, para que o Saint Clair tenha a certeza de que não o esqueceremos. Que
somos gratos a Deus por sua permanência aqui por tantos anos. Somos imensamente
gratos por tudo que nos ensinou. O que aprendemos na lida, nada nos tira.
Se cumprir a vida é mesmo, simplesmente,
“compreender a marcha e ir tocando em frente”, aqui vamos nós, preparando
outros capítulos de nossas histórias. Cada um com sua missão. Cada um
encontrando novas pessoas, fazendo novos amigos, novos discípulos. Seguindo em
frente, caminhando para Deus.
“Saudade é um preço, tão pequeno a se pagar,
quando se tem amigos para amar”, diz outra canção. Gosta dela, pois noto que a
saudade passa a ser como um troféu que nos confere a glória de ter amigos, e a
certeza de que estejam onde estiverem, um dia, a gente vai se encontrar.
Assim, trago a tradição de uma bênção celta para
dar forma de oração a esta prosa e me dirijo a ti: Que Deus permita, amigo, que vivas todo o tempo que quiseres e que sempre possas
viver plenamente.
Lembra sempre de esquecer as coisas
que te entristeceram, porém nunca esqueças de lembrar aquelas que te alegraram.
Lembra sempre de esquecer os amigos que se revelaram falsos, porém nunca
esqueças de lembrar aqueles que permaneceram fiéis. Lembra sempre de esquecer
os problemas que já passaram, porém nunca esqueças de lembrar as bênçãos de
cada dia. Que o dia mais triste de teu futuro não seja pior que o dia mais
feliz de teu passado.
Que sempre tenhas palavras cálidas
em um anoitecer frio, uma lua cheia em uma noite escura, e que o
caminho sempre se abra à tua porta. Que o caminho seja brando a teus pés,
o vento sopre leve em teus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre tua face, as
chuvas caiam serenas em teus campos.
Que as gotas da chuva molhem suavemente
o seu rosto, que o vento suave refresque seu espírito, que o sol ilumine seu
coração, que as tarefas do dia não sejam um peso nos seus ombros.
Que a gratidão que agita meu coração
se transfigure em braços e sorrisos dos que hão de te receber onde quer que
fores. E até que eu de novo te veja, meu amigo, Pe. Saint Clair Ferreira Filho,
que Deus te guarde suavemente nas palmas de Suas mãos.
Evandro José de Alvarenga
MUITO BOM
ResponderExcluirmuito bom
ResponderExcluirParabéns Evandro pelas palavras justas a este homem e seu ofício sacerdócio.
ResponderExcluirNa minha carreira de Bacharel em administração, carregarei o exemplo de Administrador que é o Pe. Saint Clair. Como diz o Evandro, lembrarei sempre "a sua concepção bíblica (também de gestor) da palavra sim e de seu antônimo, o não."
ResponderExcluirAdm. Taisson Bicalho (Ex-estagiário da PASCOM e orientado por Pe. Saint Clair)