30 de janeiro de 2014

Um dedo de prosa por Saint Clair Ferreira Filho

Crônica jornalística do jornalista Evandro Alvarenga veiculada no dia 30 de janeiro,na Vida NovaFM


Aqui do alto da minha “Zépovice” – que me desculpem os dicionaristas – queria decretar o dia do amigo. No entanto, “Zé Povim” que sou, eu não posso decretar nada, legislar nada... Pensando bem, de que me serviria o decreto de um dia do amigo, se posso ter todos os dias para os amigos?  Em sua emblemática “Canção da América”, Milton Nascimento diz que “amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e distância digam não”.
Interessante é que, de forma magistralmente poética o grande Bituca, cria uma situação de despedida, na qual o medo do distanciamento de uma amizade faz os entes cantarem e afirmarem que “venha o que vier qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar”. Para ser sincero o que eu eu queria mesmo, hoje, é fazer uma oração por um amigo. Mas não sou a pessoa indicada para isso.
Antigamente, minha doce professora Dona Sondes Ventura me dizia que rezar ou orar é falar ou prosear com Deus. Um grande amigo, Pastor Marcos Leal, certamente ainda me diria que há momentos na oração em que não sabemos como falar, que o espírito de Deus intercede por nós se possível até com gemidos, por nós não identificados.
Então, sem medo de ser feliz, faço minha prosa para um amigo e que Deus, o amigo fidelíssimo a possa ouvir com o carinho de sempre. Falo do amigo Padre Saint Clair Ferreira Filho, com quem convivemos por duas décadas. Proseio para ele e por ele que agora bota os pés na estrada e segue em frente, como quem muito bem conhece as manhas e as manhãs, como quem sabe discernir o sabor das massas e das maçãs.
Quando você aqui chegou amigo, veio acreditando que os vales de ossos podem reviver. E se quem tem fé move montanhas algumas foram movidas aqui. Deus o fez, Deus o faz, para honrar quem tem fé. Para isso houve disposição e luta. Foi este, o ponto forte de nossa convivência, muita persistência e firmeza, por mais, que os pés nos doessem.
Quando eu conheci o amigo Saint Clair, a batalha espiritual na paróquia já se fazia com intensidade. Nunca fui o modelo do católico, nem do cristão exemplar. Mas isso nem é necessário para se perceber onde Deus está agindo de uma forma ou de outra. Assim, de imediato admirei sua firmeza. Sua concepção bíblica da palavra sim e de seu antônimo, o não. Ambos ditos sem medo, no tom exato, com sabedoria.
Logo vi que havia muito mais a admirar naquele religioso, homem de fé e ser humano ímpar. Foi fácil perceber sua forma de evangelizar anunciando a boa nova e também denunciando a podridão que corrompe o mundo e os corações dos seres humanos. Até hoje, ainda tento ser seu aprendiz nesta disciplina especial e emblemática.
Em 2001, quando estive uma temporada na Rádio Vida Nova, pude ver no administrador Saint Clair, um visionário. Conheci nele uma pessoa que me instigava ao trabalho e exigia de forma muito humana. Ao mesmo tempo em que entendia minha limitação profissional, me abria espaços e ampliava meus horizontes, como quem dizia: o céu é o limite, mas é você quem irá caminhar. Tenho certeza que todos os funcionários e até ex-funcionários desta emissora podem dizer o mesmo e muito mais sobre tal convivência. Sou um privilegiado por poder fazer esta prosa.
Depois, por meio do meu blog, conheci o artista, o mecenas, o admirador de literatura das artes e incentivador de artistas e poetas. À sua maneira, Saint Clair via nas minhas crônicas uma maneira de servir a população de falar sobre deveres, direitos e cidadania... Ele me convidou em outubro de 2012 para fazer algo neste sentido, nas ondas da Rádio vida Nova FM, sob sua responsabilidade administrativa. Sem saber exatamente onde isso iria chegar, topei. Isso me trouxe de volta à Rádio em janeiro de 2013, como colaborador.
Assim, se hoje podemos ter esse Dedo de Prosa na rádio, devemos agradecer ao padre Saint Clair, por sua visão humana e social e por sua coragem e sabedoria em tratar com a coisa pública. Não são todos os religiosos que entendem que a ética é antes de um valor, um dever, absolutamente cristão.
Gostaria de poder assinalar uma palavra de cada ouvinte e de cada guanhanense que teve o prazer de conhecê-lo e conviver com ele. Mas aí eu preencheria enciclopédias inteiras. Um muito obrigado pelo menos, para que o Saint Clair tenha a certeza de que não o esqueceremos. Que somos gratos a Deus por sua permanência aqui por tantos anos. Somos imensamente gratos por tudo que nos ensinou. O que aprendemos na lida, nada nos tira.
Se cumprir a vida é mesmo, simplesmente, “compreender a marcha e ir tocando em frente”, aqui vamos nós, preparando outros capítulos de nossas histórias. Cada um com sua missão. Cada um encontrando novas pessoas, fazendo novos amigos, novos discípulos. Seguindo em frente, caminhando para Deus.
“Saudade é um preço, tão pequeno a se pagar, quando se tem amigos para amar”, diz outra canção. Gosta dela, pois noto que a saudade passa a ser como um troféu que nos confere a glória de ter amigos, e a certeza de que estejam onde estiverem, um dia, a gente vai se encontrar.
Assim, trago a tradição de uma bênção celta para dar forma de oração a esta prosa e me dirijo a ti: Que Deus permita, amigo, que vivas todo o tempo que quiseres e que sempre possas viver plenamente. 
Lembra sempre de esquecer as coisas que te entristeceram, porém nunca esqueças de lembrar aquelas que te alegraram. Lembra sempre de esquecer os amigos que se revelaram falsos, porém nunca esqueças de lembrar aqueles que permaneceram fiéis. Lembra sempre de esquecer os problemas que já passaram, porém nunca esqueças de lembrar as bênçãos de cada dia. Que o dia mais triste de teu futuro não seja pior que o dia mais feliz de teu passado.
Que sempre tenhas palavras cálidas em um anoitecer frio, uma lua cheia em uma noite escura, e que o caminho sempre se abra à tua porta. Que o caminho seja brando a teus pés, o vento sopre leve em teus ombros. Que o sol brilhe cálido sobre tua face, as chuvas caiam serenas em teus campos.
Que as gotas da chuva molhem suavemente o seu rosto, que o vento suave refresque seu espírito, que o sol ilumine seu coração, que as tarefas do dia não sejam um peso nos seus ombros.
Que a gratidão que agita meu coração se transfigure em braços e sorrisos dos que hão de te receber onde quer que fores. E até que eu de novo te veja, meu amigo, Pe. Saint Clair Ferreira Filho, que Deus te guarde suavemente nas palmas de Suas mãos. 
Evandro José de Alvarenga


4 comentários:

  1. Parabéns Evandro pelas palavras justas a este homem e seu ofício sacerdócio.

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  2. Na minha carreira de Bacharel em administração, carregarei o exemplo de Administrador que é o Pe. Saint Clair. Como diz o Evandro, lembrarei sempre "a sua concepção bíblica (também de gestor) da palavra sim e de seu antônimo, o não."

    Adm. Taisson Bicalho (Ex-estagiário da PASCOM e orientado por Pe. Saint Clair)

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