Artigo do P. Carlos Cabecinhas sobre
a relação entre catequese e liturgia, a dimensão celebrativa da catequese, a
celebração na catequese, catequese litúrgica e a participação das crianças na
Liturgia.
Celebrar: elemento constitutivo da
fé!
Por que celebramos? Porque todo o homem é um celebrante. Celebrar é, antes de
mais, uma atividade humana. As festas e celebrações não pertencem
exclusivamente ao domínio religioso: celebram-se aniversários, festas nacionais,
bodas de prata... A festa é presença universal em qualquer cultura. É um “tempo
forte”, especial, que rompe a monotonia do dia a dia. É celebração comunitária
de qualquer coisa, desde que isso seja sentido como um valor. Uma comunidade
festeja o que considera importante.
Porque todo o homem religioso é um celebrante. A celebração da fé é elemento fundamental e estruturante de qualquer religião. Festa e religião estão intimamente ligadas. Também as festas e celebrações religiosas respondem ao desejo profundo de avaliar a vida, sublinhando o essencial, e de comunhão. Contudo, introduz aí um fator novo: a relação com Deus. A festa religiosa é sempre um anseio de viver o mais próximo possível de Deus, de entrar em comunhão com ele.
Porque todo o cristão é um celebrante. A Liturgia insere-nos na História da salvação, que tem o seu centro em Jesus Cristo. A Constituição SC afirma: “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para que, pregando o Evangelho a toda a criatura, anunciassem que o Filho de Deus, pela sua morte e ressurreição, nos libertara do poder de Satanás e da morte e nos introduzira no Reino do Pai, mas também para que realizassem a obra de salvação que anunciavam, mediante o sacrifício e os sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica” (SC 6).
O cristianismo, mais que uma ética ou moral, mais que um conjunto de dogmas e ensinamentos, é uma pessoa: Jesus Cristo. Celebramos porque na Liturgia, Cristo está especialmente presente: “Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no Sacrifício da Missa quer na pessoa do ministro (...), quer principalmente sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu poder nos Sacramentos (...). Está presente na sua palavra, pois, quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, é Ele quem fala. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele mesmo que prometeu: onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles (Mt 18, 20)” (SC 7). Celebramos porque é desse encontro com Cristo que recebemos a força, a alegria e o estímulo para viver e testemunhar a fé. Não que esse encontro só seja possível na e através da Liturgia, mas aí de modo muito especial: “toda a ação litúrgica (...) é ação sagrada por excelência cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, nenhuma outra ação da Igreja pode igualar” (SC 7).
Celebramos porque “a liturgia é simultaneamente o cume para o qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua força” (SC 10). Toda a ação pastoral da Igreja se deve orientar para a comunhão na vida divina, realizada na Liturgia. Por outro lado, é à celebração que a Igreja vai buscar a sua força e dinamismo, para continuar a sua missão no mundo. Isto não significa que a Liturgia seja tudo, na vida da Igreja. De modo algum. A participação na Liturgia pressupõe o anúncio (SC 9) e deve conduzir à ação concreta: “A própria Liturgia impele os fiéis (...) a «viverem em perfeita concórdia»; pede que «manifestem na vida quanto receberem pela fé»” (SC 10).
Celebrar faz parte da fé! Não se trata de um elemento mais, mais de um elemento fundamental e estruturante da própria fé. Uma fé que não se exprima também na celebração, é uma fé morta, reduzida ao subjetivismo da "minha fé": se ser cristão é estabelecer com Cristo uma especial relação, a celebração é indispensável para estabelecer e manter viva tal relação.
Celebrar envolve a totalidade do nosso ser. Ora, a fé não se reduz a um conjunto de ideias sobre Jesus Cristo; enquanto relação que é, exige o envolvimento de todas as nossas capacidades comunicativas. Na celebração isso acontece necessariamente: celebrar não é fazer um discurso; é um "fazer" ritual e simbólico.
Em qualquer celebração, há três aspectos ou circunstâncias que a caracterizavam:
“O ponto de partida ou a ocasião de uma celebração é um acontecimento importante ou mesmo sensacional (“festivitas”, “solemnitas”). Tal acontecimento, atual ou comemorado, determina então, em segundo lugar, a convocação de uma assembleia, de uma reunião mais ou menos grande e solene (“conventus”, “coetus”, “frequentia”). Daí decorre, em seguida, a ação festiva (“actio”, “effectio”), terceiro elemento constitutivo da celebração normal. (...) Celebrar é, antes de tudo, realizar alguma coisa em comum, solene e religiosamente” .
Uma celebração, então, parte sempre de um acontecimento (ou de uma pessoas enquanto sujeito de um acontecimento), comemorado por meio de uma ação festiva; tal ação festiva é sempre realizada em comum e não individualmente. Se qualquer um destes elementos é fundamental para que exista “celebração”, o acontecimento é o mais determinante, já que é tal acontecimento que justifica e exige os outros 2 elementos, a reunião da assembleia e a ação festiva.
Porque todo o homem religioso é um celebrante. A celebração da fé é elemento fundamental e estruturante de qualquer religião. Festa e religião estão intimamente ligadas. Também as festas e celebrações religiosas respondem ao desejo profundo de avaliar a vida, sublinhando o essencial, e de comunhão. Contudo, introduz aí um fator novo: a relação com Deus. A festa religiosa é sempre um anseio de viver o mais próximo possível de Deus, de entrar em comunhão com ele.
Porque todo o cristão é um celebrante. A Liturgia insere-nos na História da salvação, que tem o seu centro em Jesus Cristo. A Constituição SC afirma: “Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para que, pregando o Evangelho a toda a criatura, anunciassem que o Filho de Deus, pela sua morte e ressurreição, nos libertara do poder de Satanás e da morte e nos introduzira no Reino do Pai, mas também para que realizassem a obra de salvação que anunciavam, mediante o sacrifício e os sacramentos, à volta dos quais gira toda a vida litúrgica” (SC 6).
O cristianismo, mais que uma ética ou moral, mais que um conjunto de dogmas e ensinamentos, é uma pessoa: Jesus Cristo. Celebramos porque na Liturgia, Cristo está especialmente presente: “Cristo está sempre presente na sua Igreja, especialmente nas ações litúrgicas. Está presente no Sacrifício da Missa quer na pessoa do ministro (...), quer principalmente sob as espécies eucarísticas. Está presente com o seu poder nos Sacramentos (...). Está presente na sua palavra, pois, quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, é Ele quem fala. Está presente, enfim, quando a Igreja reza e canta, Ele mesmo que prometeu: onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles (Mt 18, 20)” (SC 7). Celebramos porque é desse encontro com Cristo que recebemos a força, a alegria e o estímulo para viver e testemunhar a fé. Não que esse encontro só seja possível na e através da Liturgia, mas aí de modo muito especial: “toda a ação litúrgica (...) é ação sagrada por excelência cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, nenhuma outra ação da Igreja pode igualar” (SC 7).
Celebramos porque “a liturgia é simultaneamente o cume para o qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua força” (SC 10). Toda a ação pastoral da Igreja se deve orientar para a comunhão na vida divina, realizada na Liturgia. Por outro lado, é à celebração que a Igreja vai buscar a sua força e dinamismo, para continuar a sua missão no mundo. Isto não significa que a Liturgia seja tudo, na vida da Igreja. De modo algum. A participação na Liturgia pressupõe o anúncio (SC 9) e deve conduzir à ação concreta: “A própria Liturgia impele os fiéis (...) a «viverem em perfeita concórdia»; pede que «manifestem na vida quanto receberem pela fé»” (SC 10).
Celebrar faz parte da fé! Não se trata de um elemento mais, mais de um elemento fundamental e estruturante da própria fé. Uma fé que não se exprima também na celebração, é uma fé morta, reduzida ao subjetivismo da "minha fé": se ser cristão é estabelecer com Cristo uma especial relação, a celebração é indispensável para estabelecer e manter viva tal relação.
Celebrar envolve a totalidade do nosso ser. Ora, a fé não se reduz a um conjunto de ideias sobre Jesus Cristo; enquanto relação que é, exige o envolvimento de todas as nossas capacidades comunicativas. Na celebração isso acontece necessariamente: celebrar não é fazer um discurso; é um "fazer" ritual e simbólico.
Em qualquer celebração, há três aspectos ou circunstâncias que a caracterizavam:
“O ponto de partida ou a ocasião de uma celebração é um acontecimento importante ou mesmo sensacional (“festivitas”, “solemnitas”). Tal acontecimento, atual ou comemorado, determina então, em segundo lugar, a convocação de uma assembleia, de uma reunião mais ou menos grande e solene (“conventus”, “coetus”, “frequentia”). Daí decorre, em seguida, a ação festiva (“actio”, “effectio”), terceiro elemento constitutivo da celebração normal. (...) Celebrar é, antes de tudo, realizar alguma coisa em comum, solene e religiosamente” .
Uma celebração, então, parte sempre de um acontecimento (ou de uma pessoas enquanto sujeito de um acontecimento), comemorado por meio de uma ação festiva; tal ação festiva é sempre realizada em comum e não individualmente. Se qualquer um destes elementos é fundamental para que exista “celebração”, o acontecimento é o mais determinante, já que é tal acontecimento que justifica e exige os outros 2 elementos, a reunião da assembleia e a ação festiva.
Catequese e Liturgia
Se a celebração é elemento fundamental da vida cristã, não pode estar ausente da catequese, enquanto iniciação vital à vida cristã. Mas há um outro motivo para valorizar a dimensão celebrativa das crianças: a sua psicologia. A criança tem uma aprendizagem ativa, necessita da atividade; a iniciação à fé cristã tem de ser também necessariamente ativa. Se se pretende uma catequese vivencial, as celebrações têm de estar de fato presentes. E as mais importantes celebrações são, precisamente, as celebrações litúrgicas.
Catequese e Liturgia (celebração da fé) estão intimamente unidas.
– Ocupam-se ambas do mesmo mistério - Jesus Cristo -, embora de modos diferentes
– Ambas se dirigem à totalidade da pessoa (e não apenas à inteligência ou à sensibilidade) e recorrem, por isso, à linguagem simbólica
– A catequese tem necessidade da celebração litúrgica, já que, baseando-se na Palavra de Deus, o que pretende é levar as crianças e adolescentes a expressar essa fé, incarná-la na vida e celebrá-la em comunidade. A Liturgia é a meta de toda a ação da Igreja, logo, também da catequese.
– Mas é também a Liturgia a ter necessidade da catequese: a participação na celebração litúrgica supõe o prévio anúncio do Evangelho, da Palavra de Deus; supõe uma primeira iniciação, para que seja possível a participação; exige um posterior aprofundamento do mistério celebrado.
É claro que aqui se pressupõe uma concepção de catequese que é – tem que ser – bem mais que mera transmissão de saberes. Pressupõe-se uma catequese que crie condições para uma verdadeira experiência de fé.
[Catequese e sacramentos]
Falar de catequese e Liturgia leva-nos necessariamente a abordar a questão dos sacramentos. De fato, os sacramentos são o núcleo fundamental da Liturgia; mas são também um dos conteúdos essenciais da catequese. Na Igreja dos primeiros séculos, o anúncio da Palavra de Deus era o primeiro passo para a conversão. Depois seguia-se a catequese daqueles que, uma vez convertidos a Jesus Cristo, desejavam o Batismo. A catequese que se seguia baseava-se nos chamados "4 pilares": o Credo (os conteúdos fundamentais da fé), os Sacramentos (as celebrações fundamentais da vida cristã), o Pai Nosso (a oração) e os mandamentos (a vida moral). Basicamente, a catequese consistia no iniciar e aprofundar estes "4 pilares". Ainda hoje, a catequese, centrada na Palavra de Deus, mantém esses "4 pilares", como conteúdos fundamentais. Entre eles, os sacramentos.
Portanto, a celebração dos Sacramentos em geral, e da Eucaristia, em particular, estão intimamente unidas à catequese. Esta relação entre catequese e Sacramentos foi sublinhada pelo Papa João Paulo II: “A catequese está intrinsecamente ligada a toda a ação litúrgica e sacramental, pois é nos Sacramentos, sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude na transformação dos homens. (...) A catequese conserva sempre uma referência aos Sacramentos; toda a catequese leva necessariamente aos Sacramentos da fé. Por outro lado, a autêntica prática dos Sacramentos tem forçosamente um aspecto catequético. Por outras palavras, a vida sacramental empobrece-se e depressa se torna ritualismo oco, se não estiver fundado num conhecimento sério do que significam os Sacramentos. E a catequese intelectualiza-se, se não for haurir vida na prática sacramental” (Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, 23).
Se a Eucaristia é a “meta” de toda a ação da Igreja, é-o também da catequese: a catequese deve conduzir necessariamente à Eucaristia! Se a Eucaristia é ainda a “fonte” da vida cristã, a catequese deve partir da celebração para o aprofundamento e vivência da fé. Assim, a dimensão celebrativa da vida cristã tem necessariamente de encontrar eco na catequese., uma vez que “a fé implica, em virtude da sua própria dinâmica, ser conhecida, celebrada, vivida e feita oração. A catequese deve cultivar cada uma destas dimensões” (DGC, n.º 84).
O DGC n.º 85, abordando as tarefas fundamentais da catequese (dar a conhecer, a celebrar, a viver e a contemplar o mistério de Cristo), diz o seguinte:
“A comunhão com Jesus Cristo leva a celebrar a sua presença salvífica nos sacramentos e, de modo especial, na Eucaristia. A Igreja deseja ardentemente que todos os cristãos participem plena, consciente e ativamente na liturgia, conforme o exige a sua própria natureza e a dignidade do sacerdócio baptismal dos cristãos. Por isso, a catequese, além de favorecer o conhecimento do significado da liturgia e dos sacramentos, deve educar os discípulos de Jesus Cristo «para a oração, para a gratidão, para a penitência, para as preces confiantes, para o sentido comunitário, para a percepção justa do significado dos símbolos...» (DGC 1971, 25b), uma vez que tudo isso é necessário, para que exista uma verdadeira vida litúrgica”.
Celebração na catequese (dimensão
celebrativa)
Em consonância com isto, foram pensados os nossos catecismos atuais. Por exemplo, o Guia do Catequista do 3º Ano de catequese (Queremos seguir-Te, 18-22) caracteriza a catequese que se pretende como catequese "essencialmente testemunhal", "verdadeiramente comunitária", na qual "o relato assume um relevo muito especial"; uma catequese "que se apoia predominantemente no símbolo", "eminentemente celebrativa", e "em que a moral brote da vivência da fé".
Expressamente sobre essa dimensão celebrativa, afirma o mesmo catecismo:
"A fé celebra-se; e é particularmente enquanto se celebra que se vive. Por isso mesmo, em vez de, por exemplo, explicarmos o que são ações sacramentais ou atos litúrgicos, parece-nos preferível inserir-nos, tanto quanto possível, na sua vivência pela celebração. Daí que não distingamos rigidamente entre catequeses proclamativas e celebrativas. Algumas são mesmo integradas em celebrações comunitárias. Mas isso não significa, de modo algum, que as restantes não tenham carácter celebrativo. Em nenhuma delas se faz, por exemplo, um uso do canto que seja meramente decorativo ou até simplesmente complementar duma explicação, mais ou menos racional, dum conteúdo doutrinal. O canto pretende ser sempre estruturante, expressão dum ato de fé, que envolve toda a pessoa na sua relação com Deus. O mesmo se diga da oração em geral: dela faz parte já a atitude de acolhimento à Palavra de Deus proclamada, ou a contemplação tantas vezes sugerida, de tal maneira que a prece ou o louvor que brotam dos lábios sejam, num momento alto do ato catequético, expressão autêntica do que vai no coração" (Queremos seguir-Te, 21).
Isto que exprime o Guia do Catequista do 3º Ano de catequese aplica-se a toda a catequese da infância. É claro, para quem trabalha com estes catecismos, que é nas primeiras fases que mais se desenvolve esta dimensão celebrativa; nos catecismos da adolescência, vai aumentando a sistematização de conhecimentos, e diminuindo os aspectos celebrativos. Contudo, mesmo aqui, o momento de oração nunca aparece como complemento, mas como elemento integrante da própria catequese.
Assim, quanto aos sacramentos, um dos "4 pilares" da catequese, estão presentes em todos os catecismos. Nem todos os sete sacramentos estão em todos os catecismos, mas há sempre a presença de pelo menos um dos sete sacramentos em cada um dos 10 anos de catequese. E em dois catecismos, estão presentes os sete sacramentos: no 3º e no 10 Ano.
Também a oração é presença em todos os catecismos. O ato catequético é proposto pelos catecismo em 3 momentos, sendo o terceiro a "expressão de fé", que pode assumir diversas configurações, mas que consta habitualmente da oração ou celebração. De facto, a oração era outro dos "4 pilares" da catequese. Uma primeira chamada de atenção: perigo de olhar a oração, no final da catequese, como um mero apêndice ou complemento... Deveria merecer tanto ou mais cuidado a sua preparação, pois o que se pretende é que o que aprendeu e experimentou na catequese seja assumido e assimilado por cada um e expresso em forma relacional, em oração. Os vários catecismos vão também propondo algumas fórmulas de oração para serem aprendidas de cor: o Pai Nosso, a Ave- Maria, Glória ao pai, Sinal da Cruz, Orações da manhã e da noite, Confissão e Ato de Contrição, etc.
Outro elemento a sublinhar é que os catecismos estão todos organizados seguindo o ritmo do Ano Litúrgico. Os dois grandes ciclos, do Natal e da Páscoa, ritmam o ano de catequese.
Mas além destes elementos celebrativos, os próprios catecismos propõem um conjunto de celebrações próprias, que importa sempre ter em conta. Este outro aspecto para o qual me parece importante chamar a atenção: a tendência é prescindir de algumas celebrações, porque não é prático, porque exige preparação, porque... Optar por não as realizar empobrece a própria catequese e corre o risco de a intelectualizar demasiado. Catequese não são umas aulas de religião... Essas celebrações estão centradas na Palavra de Deus e no uso de símbolos fundamentais para o cristão. Pretendem ser sempre momentos de chegada, para os quais preparam as várias catequeses que as precedem.
Nesta dimensão celebrativa sublinham os catecismos o carácter comunitário da celebração da fé. Daí que se insista, com frequência, na necessidade de convidar os pais, ou de inserir as celebrações catequéticas na celebração habitual da comunidade.
A linguagem da celebração e da
catequese: os símbolos
Em toda a celebração, o recurso a símbolos é fundamental. Não há celebração sem símbolos! Portanto, para cumprir a tarefa exposta acima, de iniciação à Eucaristia, a catequese tem de Ter presente esses mesmos símbolos presentes na celebração eucarística. Contudo, em catequese, o recurso a símbolos não se limita a esta função de iniciação litúrgica. O uso de símbolos é parte integrante da catequese, como explica o DGC n.º 150:
“A comunicação da fé na catequese é um acontecimento de graça, realizado pelo encontro da Palavra de Deus com a experiência da pessoa, exprime-se através de sinais sensíveis e, por fim, abre-se ao mistério. (...) O método indutivo consiste na apresentação de factos (acontecimentos bíblicos, gestos litúrgicos, acontecimentos da vida quotidiana...), com o objectivo de discernir o significado que eles podem ter na Revelação divina. É uma via que oferece grandes vantagens, porque está de acordo com a economia da Revelação; responde a uma profunda expectativa do ser humano – chegar ao conhecimento das coisas inteligíveis -; e também está de acordo com as características do conhecimento da fé, que é um conhecimento através de sinais. (...) A síntese dedutiva só terá pleno valor, quando tiver sido realizado o processo indutivo”.
Por outras palavras, o DGC diz-nos que a catequese não pretende primeiramente transmitir muitos conhecimentos (há historiadores que podem falar dias inteiros de Jesus Cristo e não terem nenhuma fé!). A catequese visa transmitir uma experiência de fé, e só depois, como consequência, leva a aprofundar o conhecimento do mistério em que se acredita. Logo, não tem sentido uma catequese que se limite a fazer decorar umas coisas... A catequese deve, antes, partir dos símbolos, dos acontecimentos, dos relatos bíblicos, para levar a fazer tal experiência de fé e possibilitar o aprofundamento do conhecimento do mistério de Jesus Cristo. É esta opção que está na base dos catecismos de que dispomos (têm limites, é certo, como toda a obra humana... por este motivo é que não insistem nos pontos a decorar... pelo mesmo motivo, propõem celebrações, símbolos, dinâmicas várias que motivem a experiência de fé).
Contudo, não existem soluções feitas ("Não há soluções. Há caminhos").
Notas sobre a catequese litúrgica e a
participação das crianças na Liturgia
Não apresentando soluções, algumas pistas gerais para a participação das crianças nas celebrações litúrgicas da comunidade:
– A repetição não é apenas uma coisa que se tem de suportar: é uma exigência! A Liturgia é um agir ritual, o que implica sempre repetição. Não é a repetição que cansa, mas a falta de motivação... As crianças têm necessidade da repetição: seguem diariamente os mesmos "rituais", o que lhes dá segurança. O que gostam, não se importam nada de repetir (e vêm 10 vezes o mesmo desenho animado, lêem 20 vezes a mesma história...). Também na celebração litúrgica, é pela celebração que a criança cria segurança na sua participação, sabe o que deve fazer, sente como seus os comportamentos e atitudes, canta...
– Valorizar o canto. A música e o canto são elementos fundamentais da festa. Ora, as crianças são particularmente sensíveis ao ambiente festivo. Motivar as crianças para a participação pelo canto exige cuidados especiais a quem faz a escolha: por exemplo, exige que as aclamações (Aleluia, Santo) não mudem constantemente, para que elas possam aprender a melodia e participar de fato.
– A participação da criança é eminentemente ativa. A criança tem necessidade de estar ativa para poder participar. Isso implica que lhe sejam dadas tarefas muito precisas, que se valorizem os movimentos (inserindo-as nas procissões, por exemplo). Mas participação ativa não significa estar sempre a mexer: é fundamental motivar as crianças para a escuta, para as atitudes corporais (de pé, sentados, de joelhos); por vezes, propor-lhes algum gesto concreto (erguer os braços, por exemplo).
– Determinante é o testemunho dos adultos presentes. A religiosidade da criança tende a ser imitativa. Mas a criança intui se os adulto participam convictamente ou representam um papel, sem grande convicção. Uma assembleia que participa, ajuda as crianças a participar; uma assembleia que "assiste", desmotiva...
– Uma dica final: a preparação é fundamental! Preparar bem uma celebração com crianças é decisivo. A evitar são os extremos: fazer um "ensaio" de tal modo exaustivo de tudo, que as crianças já vão cansadas para a celebração; ou deixar tudo à inspiração momentânea e à espontaneidade, deixando as crianças completamente dispersas e "perdidas"...
Bibliografia
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Carlos
Cabecinhas
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